Mosca Branca

Fiat 147 Rallye: o Pequeno Polegar das estradas

Fiat 147 Rallye 1979
Foto: Batagini Fotografias

Como a Fiat do Brasil precisou de pouco para criar o Rallye, seu primeiro carro esportivo, aproveitando as qualidades do projeto 147

Fiat 147 Rallye é o carro que marca a consolidação da Fiat Automóveis S/A no mercado nacional e a introdução do 147 na seleta categoria dos automóveis esportivos. Indicando que os italianos vieram para ficar e disputavam seriamente a preferência do consumidor brasileiro.

Recém-chegada à cidade de Betim, MG, a Fiat encontrou uma concorrência cristalizada, dominada pela Volkswagen, GM e Ford, enquanto a Chrysler começava a naufragar.

Fiat 127 Sport, base do 147 Rallye, e com melhor desempenho

O 127 Sport italiano, inspiração para o 147 Rallye (Foto: pinterest.com)

Para competir nesse contexto, a montadora lançou, em 1976, o “147”,  modelo derivado do 127 italiano: um carro bem resolvido e econômico, que trouxe novidades como motor dianteiro transversal, direção articulada e estepe no cofre do motor, apesar de alguns problemas, como o câmbio de difícil operação e a correia dentada que exigia rígida manutenção, sob risco de afetar o motor.

Nasce um esportivo

Após dois anos de boas vendas, a Fiat decidiu completar a linha, que àquela altura tinha o 147 L (básico), o GL (intermediário) e o 147 Furgão; para entrar nos segmentos, estratégicos que faltavam. Assim, apresentou, em 1978, três novos modelos: o 147 Pick-Up (carga), o 147 GLS 1.3 (luxo) e o 147 Rallye 1.3 (esporte).

Emerson Fittipaldi posa como garoto propaganda do Fiat 147 Rallye

O Fiat 147 Rallye, recomendado por Fittipaldi. (Foto: divulgação Fiat)

Willys Rural 4X2 1968
R$ 80.000,00

VW Kombi 1973
R$ 150.000,00

R$ 45.000,00

BMW 740i 1997
R$ 95.000,00

R$ 120.000,00

R$ 48.900,00

R$ 32.000,00

MG TD 1953
R$ 190.000,00

Ford LTD 1978
R$ 86.000,00

VW Saveiro Summer 1996
R$ 80.000,00

Apresentado no XI Salão do automóvel de 1978, o 147 Rallye, como quase todos esportivos da época, era um carro de linha, com aparência e desempenho transformados por acessórios exclusivos.

Para o lançamento, a Fiat convidou um padrinho ilustre: Emerson Fittipaldi, bicampeão mundial de F-1, que testou o modelo e exaltou o desempenho do carrinho que, graças ao bom peso-potência, conseguia acelerar e manter velocidade, mesmo com a ocupação máxima de 5 passageiros.

Esse é o 147 Rallye, pela frente

A frente do Fiat 147 Rallye

Spoiler e faróis de milha, exclusividades do Fiat 147 Rallye (Foto: Eduardo Tomitão)

A frente do 147 Rallye era característica: o capô, de abertura invertida, arrematava na grade preta de três linhas duplas horizontais, com fundo quadriculado, onde ficavam os faróis quadrados. No centro, havia o logotipo esportivo “FIAT”, vermelho e na esquerda inferior, o nome “Rallye” em branco.

Entre o para-choque e a grade, ficavam as entradas de ar auxiliares, para refrigeração do motor, ao lado das lentes laranja com as setas/luzes de posição.

O para-choque, metálico, era preto fosco e tinha aparafusado dois faróis Cibié Serra II de milha, clichê dos esportivos nacionais. Já embaixo do para-choque, havia um “spoiler” de plástico preto, capaz de reduzir em 2% a resistência do ar na frente, segundo estudos da FIAT no túnel de vento.

Sobre o capô, um “scoop” de plástico envolvia a grelha, aumentando a eficiência da ventilação interna.

Um carro “faixa preta”

A lateral do Fiat 147 Rallye com a faixa decorativa

Nas faixas laterais, a inscrição ‘Rallye 1300’ (Foto: Eduardo Tomitão)

A lateral angulosa tinha o desenho inconfundível do Fiat 147, com a tampa traseira rampada e um vinco que percorria a linha média da carroceria. Três opções de cores eram oferecidas: Vermelho Ferrari, Branco Alpi e Amarelo Toscano.

Havia uma boa área envidraçada, com grandes para-brisas dianteiros e traseiros, mas o vidro das portas ainda usava quebra vento. Os do passageiro, basculantes, acompanhavam o desenho da carroceria. Junto a eles ficava uma grade triangular plástica para renovação do ar interno.

As maçanetas eram pintadas de preto-fosco, assim como o retrovisor “aerodinâmico” pequeno e fusiforme, instalado apenas na porta do motorista, um pouco por economia e um pouco para reduzir a resistência do ar.

Na parte inferior da carroceria, existia uma larga faixa preta com o nome “1300 Rallye” vazado. Mesmo recurso de estilo usado nos futuros Unos 1.5R.

As rodas de 13 polegadas, estampadas em aço, usavam pneus 145 S/R 13, radiais. Os aros tinham reforços em alto relevo e 8 furos retangulares faziam a ventilação dos freios. Eram pintados de prata e preto junto aos parafusos, formando um desenho de cruz, arrematada pelo logotipo FIAT. 

Atrás, poucas diferenças

A traseira do Fiat 147 Rallye

Apenas a plaqueta, o escapamento duplo e o para-choque preto identificavam o 147 Rallye por trás (Foto: Eduardo Tomitão)

A traseira era dominada pela tampa do porta-malas, identificada, à direita, pela plaqueta “Fiat 147 Rallye”, em alumínio. As lanternas, estriadas, eram de duas cores, vermelha para luz de posição, lanterna, seta, e branca, para luz de ré.

O para-choque traseiro tinha a luz de placa na parte superior e também era pintado em preto fosco, combinando com a ponteira dupla do escapamento.

Interior padrão Rallye

Painel do Fiat 147 Rallye

Painel dianteiro e volante de alumino (Foto: Século XX V.C.)

O interior do Fiat 147 Rallye trazia um acabamento espartano, dominado pelo preto, dentro da proposta esportiva. O volante de competição tinha um desenho em Y. Ele era feito em alumínio vazado e trazia, no centro, o botão da buzina, com o logo FIAT.

No lado do motorista, uma aba do painel fazia quebra luz sobre o quadro de instrumentos, um dos melhores da categoria, aproveitado, parcialmente, da linha GLS.

Instrumentos do 147 Rallye

O painel de instrumentos (Foto: Século XX V.C.)

Entre o velocímetro (180 km/h) e o conta-giros, ficava um instrumento conjunto de indicador de temperatura e nível de gasolina, com as luzes-testemunha dos lados. Os mostradores tinham um desenho diferente, de pentágono recortado, mas eram de fácil visibilidade, iluminados em verde.

À esquerda do volante, um grupo de teclas acionava o desembaçador, faróis, pisca alerta, reostato e farol de milha, complementadas pelas hastes na coluna da direção, operando o farol alto, setas e limpador do para-brisa.

Bancos mais confortáveis

No meio do painel havia duas grades circulares, orientadoras da ventilação e, sob elas, dois instrumentos extras: o indicador da pressão do óleo e o voltímetro, fixados onde era cinzeiro nos outros 147, ao lado do isqueiro e sobre o comando da ventilação.

O rádio e alto falante no painel do 
 Fiat 147 Rallye

O rádio e o alto-falante ficavam em frente ao carona (Foto: Antonio Nogueira)

Já o rádio, ficava em frente ao banco do carona, sobre o porta-luvas e junto à grade do alto falante. Entre os bancos, passava um túnel, puramente estrutural já que o carro era tração dianteira. Nele era instalado um pequeno porta-objeto/cinzeiro de plástico, ao redor da alavanca do câmbio de quatro marchas.

Bancos esportivos do 147 Rallye

Bancos gomados com encosto de cabeça (Foto: Revista Quatro Rodas nº 221)

Os bancos dianteiros do 147 Rallye eram envolventes e reclináveis, com encosto de cabeça integrado. Inteiramente forrados em courvin preto, costurado em gomos retangulares, repetiam o padrão no banco traseiro. Os cintos de segurança, também pretos, eram de três pontos.

As laterais das portas, simples, também eram em courvin preto, com frisos retangulares. Ao centro, uma peça única abrigava descansa-braços, puxador e maçaneta. Mais à frente, ficava a manivela dos vidros.

O assoalho era forrado com carpete buclê preto e o teto com vinil cinza escuro. Apesar de ser um hatch, o porta-malas era razoável, com 380 L, acarpetado.

Motor Fiasa 1300: receita de um veneno leve

Motor 1.3 do 147 Rallye

Motor igual ao do 147 GLS, mas com tratamento Rallye (Foto: Eduardo Tomitão)

O 147 Rallye era movido pelo motor Fiasa (abreviatura de Fiat S/A), transversal e de tração dianteira. Era o mesmo motor do 147 GLS, a gasolina, com cilindrada aumentada de 1050cc para 1300cc, mas, no Rallye, recebia um carburador Weber duplo 460, importado da Itália; o respectivo coletor de admissão e um sistema de escapamento, também duplo.

Essas melhorias faziam a potência ganhar 11CV, indo de 61 CV (SAE) para 72 CV (SAE) com torque de 10.8 kgfm (4000 rpm). Assim, usando uma caixa de quatro marchas ligeiramente alongada, o 147 Rallye tinha velocidade máxima de 144 km/h e aceleração de 0-100 km/h em 17,5 segundos, com consumo médio de 12,3 km/l.

Já, a concorrência…

Desempenho equivalente à concorrência dos esportivos “disfarçados” de 1978: O VW Passat TS (96 CV) ia até 152 km/h e alcançava os 100 km/h em 16,3 s.; o Ford Corcel II GT (76 CV), aos 151 km/h e 15,9 s., e o Chevette GP (68 CV) fazia 138 km/h, com 0/100 em 20,2 s.

Mas, bem aquém do 127 Sport italiano, de 1050 cc., 70 CV (DIN), máxima de 160 kḿ/h e 0-100 em 14 s. (beneficiado pela excelente gasolina europeia).

A suspensão era padrão 147, independente nas quatro rodas, com molas helicoidais na dianteira e feixe de molas, atuando como barra estabilizadora, na traseira, dando ótima agilidade nas manobras, ajudada pelo baixo peso total de 800 kg e a largura estreita de 1,55 m.

Os freios convencionais, a disco na frente e tambor atrás, eram eficientes e seguros dentro da proposta do carro.

Bem adaptado à realidade brasileira, o conjunto mecânico do Rallye foi repetido em todos 147 esportivos e aproveitado, quase integralmente, no Uno SX, lançado seis anos depois, em 1984.

Novidades para 1980 e a frente Europa

Em 1980 toda a linha 147 ganhou nova frente “Europa”, inclusive o Rallye (Foto: Acervo Fiat)

Em novembro de 1979, a Fiat lançou o 147 Rallye modelo 1980, com pequenas alterações na lateral, onde a faixa foi substituída por um friso de inox e plástico, que protegia a pintura de batidas leves e incorporava a identificação numa plaqueta alumínio, junto à porta.

O motivo das poucas mudanças ficou claro em março de 1980, quando foi apresentada uma ampla reestilização na frente, logo apelidada de “Frente Europa”, pois era a mesma do 127 Top, europeu. Todavia, existem alguns exemplares originais, com características de ambas as gerações.

A nova lateral do 147 Rallye, sem a faixa esportiva

Nesse exemplar de 1979/80, a nova lateral do 147 Rallye com um friso no lugar da faixa, mas a frente continua a antiga (Foto: Antonio Nogueira)

O capô perdeu os dois frisos e ficou liso, com um leve desenho de cunha. A frente ganhou 11 cm a mais, e os faróis, maiores, ganharam moldura negra, inclinados para frente. Ao lado deles ficavam as novas lanternas bicolores — com seta na parte laranja e lanterna na transparente — mais visíveis e seguras.

A grade de plástico de 5 barras horizontais e fundo de linhas alternadas, tinha o logotipo da Fiat ao centro, unido à plaqueta “Rallye”.

Nova cor

Os para-choques passaram a ser em plástico polipropileno (PP), os primeiros do Brasil; os faróis de longo alcance foram para a parte inferior do spoiler e um novo tom foi adicionado no catálogo: o Preto Etna que se tornaria famoso entre os esportivos Fiat, sendo inclusive a cor do lendário Oggi CSS. Já em 1981, surgiu outra opção de tom: o Cinza Itararema metálico.

Nova traseira do 147 Rallye, com poucas mudanças

Nova luz de placa e lanternas tricolores. (Foto: Século XX V.C.)

A traseira não mudava, mas as lanternas ficaram tricolores, vermelhas na lanterna/freio, branca na ré e laranja nas setas, atendendo à legislação de segurança que exigia cores diferentes para cada função.

Dois focos de luz, um de cada lado, passaram a iluminar a placa, seguindo o padrão europeu. O para-choque traseiro, também de plástico preto, como o dianteiro, completava o conjunto. Posteriormente, a identificação, na traseira, foi alterada para “Fiat Rallye”, apenas.

Bancos em veludo preto no 147 Rallye 1980

Nova forração de veludo preto, mais conforto para o 147 Rallye 1980 (Foto: Século XX V.C.)

Internamente, a melhoria mais evidente foi o revestimento de veludo nos assentos e encostos dos bancos, embora o padrão de costura continuasse em gomos retangulares. A porta do motorista ganhou uma prática bolsa elástica, porta-objeto.  Pequenas alterações, às quais se somaram os ponteiros vermelhos, novo grafismo para os instrumentos e cintos retráteis, a partir de 1981.

O filtro de ar do Fiat 147 Rallye, deslocado para a direita

O filtro de ar do 147 Rallye, deslocado para a direita (Foto: Antonio Nogueira)

Mecanicamente o novo 147 Rallye também continuava o mesmo. Apenas o filtro de ar foi aumentado e deslocado para a direita, ligado ao carburador por um grande duto de borracha. Complementado por algumas melhorias, como servo-freio, a vácuo, na linha 81. 

Com a melhor aerodinâmica da frente, o desempenho ganhava ligeiros 2 km/h na velocidade máxima e 2 s. no 0-100 km/h.

Legado do Fiat 147 Rallye

Fiats 147 Rallye e GL em um comparativo da Quatro Rodas

147 Rallye e seu irmão GL, “quase” gêmeos. (Foto: Revista Quatro Rodas nº 238)

Fabricado por dois anos cada, (1979-80 e 1980-81), as duas gerações do 147 Rallye foram bem recebidas pela imprensa e pelos pilotos de plantão. Por suas qualidades, tinham como habitat natural as serras e estradas sinuosas (comuns no Brasil) onde enfrentava, com vantagens, a maioria dos carros nacionais. Fazia jus ao nome, tirado da competição “rali” onde não vence o carro mais potente e veloz, mas sim, aquele capaz de manter o melhor ritmo, dentro de um percurso pré-definido.

O Racing chegou

Em novembro de 1981, a linha 147 Rallye foi extinta e substituída pela 147 Racing, No fundo o mesmo carro, mas com algumas novas mudanças.

A Fiat estava entrando numa corrida contra o tempo, para manter o mercado interessado no 147, enquanto investia pesado na nacionalização do Uno italiano, a última palavra da tecnologia na época e no qual a fábrica apostava, com razão, todas suas fichas.

Apesar de produzido em relativa quantidade, o 147 Rallye, hoje, se tornou uma verdadeira raridade, ainda mais original e com todos acessórios, pois a maioria se perdeu ou foi descaracterizada, ao longo dos anos.

Muito popular entre os colecionadores e fãs da montadora, o modelo é um clássico em ascensão, marcando o ponto zero da extensa linha de bons esportivos da Fiat brasileira.

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Agradecimento especial a Luiz Fernando Grain e Eduardo Tomitão

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Geraldo Costa

Graduado em Letras Literatura, fã dos automóveis antigos em geral e dos “novos antigos”, carros até 1990, dos quais gosta de pesquisar histórias e detalhes. Entusiasta do Fiat Uno, também atua como moderador no fórum online do “Clube do Uno Brasil.”

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