Mosca Branca

Diplomata “Collectors” 1992: o cantar do cisne na linha Opala

Opala Diplomata Collectors
Foto: T7 Garage

Com apenas 100 unidades produzidas, esta série especial marca o fim de um dos carros nacionais mais famosos de todos os tempos

O ano era 1992 e o Chevrolet Opala vivia seus últimos meses de produção, após 24 anos bem sucedidos no mercado brasileiro. Para celebrar a despedida do modelo — lançado em 1968, como o primeiro carro da General Motors no Brasil — o diretor de comunicação, Luiz Cezar T. Fanfa propôs a criação de uma inédita série limitada, o Diplomata S/E “Collectors”, inspirada na prática das montadoras estrangeiras, que costumam transformar as últimas unidades de um sucesso, em uma série especial, voltada para colecionadores/museus.

Como o nome indica, a base era o luxuoso Diplomata S/E, top da linha GM na época, e a proposta era oferecer o que o Opala tinha de melhor. Assim, o Diplomata S/E “Collectors” não apresentava opcionais; todos os acessórios vinham de série (exceto forração em couro).

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O fim do Opala já era planejado há tempos, mas o modelo resistia até então, graças ao carisma, confiabilidade e conforto, que o transformaram num dos carros nacionais mais conhecidos e admirados, até hoje.

Opala Diplomata Collectors 1992

Para-choques e grade pintados (Foto: T7 Garage)


O Diplomata S/E “Collectors” possuía para-choques envolventes, na cor da carroceria, com bordas protegidas em borracha. Na frente, estilo Monza, se destacavam as setas cristal, junto aos grandes faróis trapezoidais, com faróis auxiliares integrados. Sob a “gravata” da GM, a grade, de oito furos, dava um visual agressivo à frente do carro.

Opala Diplomata Collectors 1992

Traseira com lanternas fumê (Foto: T7 Garage)


Na traseira, ficava a identificação 4.1/S AUTOMATIC, CHEVROLET logo acima das amplas lanternas vermelhas/fumê. Um segmento de acrílico encobria o bocal do tanque e unia as lanternas, dando a impressão de uma peça inteiriça.

Linhas tradicionais do Opala 4 portas (Foto: T7 Garage)

Na carroceria, típica do Opala 4 portas, predominavam os traços retos, suavizados por uma curvatura na linha das portas e uma inclinação na coluna traseira, dando um desenho “fastback” leve.

A parte inferior da carroceria era protegida por um largo friso plástico. Nos para-lamas dianteiros ficava a identificação DIPLOMATA S/E, em dourado, exclusivo do “Collectors” (prata nos Diplomatas S/E comuns). Apenas três cores de pintura eram disponíveis: Preto Memphis, Azul Milos e Vermelho Ciprius, todas perolizadas.

As rodas de 15′, de liga leve e cinco parafusos, eram adornadas com desenhos triangulares, que apontavam para o logo da GM, ao centro.

Interior  (Foto: T7 Garage) e detalhe do quadro de instrumentos (Foto: Pastore CC)


No interior, a atenção era atraída pelo enorme painel de plástico preto e pelo volante arredondado de três raios, com a inscrição dourada “Collectors” ao centro (substituindo a tradicional “Diplomata S/E”).

Na frente do motorista, um módulo retangular abrigava o controle dos faróis e os instrumentos, agrupados em um painel de fundo quadriculado, tendo: à esquerda um agregado de temperatura e nível de combustível, ao centro o velocímetro (220 km/h) com odômetro total e parcial e à direita o tacômetro. Enfileiradas, embaixo, estavam as luzes testemunhas. Em torno da coluna da direção ficava o restante dos comandos do veículo.  E, na frente do passageiro, havia um vasto porta-luvas, chaveado.

Console principal e console secundário. (Fotos: Pastore CC)


No meio do painel, um grande console abrigava dois orientadores de ar independentes (havia outros dois, nas extremidades do painel). Abaixo, ficavam o moderno rádio toca fitas Shedar, o relógio/cronômetro digital, isqueiro, cinzeiro, comandos avulsos e os controles do ventilador.

Recobrindo o túnel central, entre os bancos, havia um segundo console, onde se alojavam os orientadores traseiros de ar, um porta-fitas, o freio de mão, os controles dos vidros, espelhos e travas elétricos, a alavanca do câmbio automático e um porta-objetos. A peça, subindo em ângulo, terminava rente ao console principal, abrigando os controles do ar-condicionado.

Opala Diplomata Collectors 1992

Bancos em veludo (Foto: T7 Garage)


Os bancos grandes, com apoio de cabeça vazado, eram inteiramente revestidos de veludo listrado e tinham uma bolsa porta papéis nas costas. No banco de trás, ainda havia um cômodo descansa braços retrátil. O assoalho e o porta-malas eram revestidos de carpete preto. Com a boa forração antiacústica, usada pela GM, o nível de ruído era baixo, 68 db-100km/h, para um carro desse porte.

Opala Diplomata Collectors 1992

Luxuosa forração das portas (Foto: T7 Garage)

As portas eram emolduradas em plástico, com formato “C”, que, na parte inferior, era porta objetos e na parte superior, um apoia braços/puxador. O centro era forrado com o mesmo tecido dos bancos e abrigava a maçaneta e a trava. Na parte inferior, ficavam o alto-falante e uma lanterna circular, vermelho-branca, que alertava para porta aberta e iluminava o chão. A porta traseira seguia uma disposição parecida, acrescida de um cinzeiro e o botão do vidro elétrico.

Interior em couro opcional (Foto: Pastore CC)

O único opcional oferecido para o Diplomata “Collectors”, era o revestimento completo em couro preto, que, por sinal, quase todas as unidades ostentam. Apenas uma minoria usa o acabamento em veludo.

Motor ainda conservava o antigo logo “Chevrolet” cursivo. (Foto: T7 Garage)

O motor era o veterano seis cilindros em linha, usado no Impala americano na década de 1960 e que equipava o Opala desde o seu lançamento. Ao longo dos anos, foi aperfeiçoado, melhorando o rendimento e a economia, até culminar no 4100/S a gasolina, de 121cv e generosos 29kgfm (2000rpm) de torque.

Os Diplomatas “Collectors” vinham de série com o câmbio automático ZF (opcional nos outros Opalas), importado da Alemanha e que equipou carros de primeiro mundo, como o Jaguar XJS e o BMW 735i.

Com quatro marchas e bloqueio no conversor de torque, o conjunto de tração traseira era capaz de levar os 1300 kg do Opala a 166 km/h máximos, chegando aos 100 km/h em 11,2s. Bom desempenho, especialmente, a aceleração, comparável aos esportivos da época.  O Gol GTi, por exemplo, ia a 100 km/h em 10,3 s (176 km/h final) e o Uno 1.6 R em 11,4s (165 km/h final).

Embora o uso esportivo fosse limitado pela suspensão macia, de molas helicoidais, independente na frente e com eixo rígido atrás, um detalhe fazia inveja em qualquer carro nacional: o sistema de freios a disco, nas quatro rodas.  Sem contar a direção hidráulica “Servotronic” progressiva, com direito a regulagem de sete posições para o volante.

Opala Diplomata Collectors 1992

Conteúdo da pasta “Collector” (Foto: blog Victorduopala)


Para reforçar a exclusividade do modelo, o privilegiado comprador recebia uma pasta em couro contendo: uma fita VHS de 16 minutos contando a história do Opala, um exemplar da revista oficial GM “Panorama” e uma carta timbrada, assinada por Richard Wagoner Jr. e André Beer, presidente e vice da GMB com as “cordiais saudações” pela compra do histórico modelo. Também vinham alguns itens “life style”: um relógio digital de mesa, uma caneta tinteira azul, e um chaveiro. Todas as peças vinham inscritas em dourado, com o nome do carro.

Existe a lenda de que as chaves do “Collectors” seriam banhadas a ouro, mas, apesar de muito difundida, essa informação carece de fundamento, pois não consta na lista oficial dos itens da GM.

André Beer (1º dir.) mostra cartazes de despedida escritos pelos funcionários, para Richard Wagoner Jr. (2ºdir.) ao inspecionarem o último Opala “Collectors”, na linha de montagem (Foto: Reprodução Youtube)


Foram produzidos 100 Opalas Diplomatas S/E “Collectors” entre março e abril de 1992. Não foi uma série contínua e entre as unidades, prosseguia a produção de modelos comuns.

O último Opala produzido, na quinta-feira, 16 de abril de 1992, foi um “Collector”  Vermelho Ciprius. Além disso, o exemplar é também o centésimo “Collectors” e o milionésimo Opala (precisamente o 998444º). Depois, só foram fabricadas mais seis Caravans ambulâncias. Hoje, esse “Collectors”, de valor inestimável, integra o Museu do Dodge do colecionador Alexandre Badolato, junto com a última Caravan ambulância.

Inédita no Brasil, a iniciativa de lançar uma série especial de despedida, somada ao grande valor do modelo e sua pouca idade (27 anos), faz com que a sobrevivência do Diplomata S/E “Collectors” seja elevada. De acordo com o fórum “Opaleiros do Paraná”, das 100 unidades, em torno de 67 circulam normalmente, 17 foram furtados, 15 têm a documentação irregular por algum motivo e apenas um foi baixado.

Apesar de ainda não ter direito à placa preta (só em 2022) o Diplomata S/E “Collectors” tem o futuro garantido como clássico, integrando uma série que se valoriza a cada dia, por sintetizar, numa produção exclusiva, todo conforto, estilo e potência pelos quais a linha Opala sempre primou.


Agradecimentos a Wilson ‘Welco’ Amorim, presidente do Opala Clube Rio de Janeiro

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Geraldo Costa

Graduado em Letras Literatura, fã dos automóveis antigos em geral e dos “novos antigos”, carros até 1990, dos quais gosta de pesquisar histórias e detalhes. Entusiasta do Fiat Uno, também atua como moderador no fórum online do “Clube do Uno Brasil.”

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