Repórter Maxicar

Estes russos percorreram o gelado Ártico a bordo de um Moskvitch 1981

Moskvitch

Dirigir pelo Extremo Norte da Rússia no inverno é difícil e arriscado, mesmo em um veículo moderno. No entanto, quatro russos saíram de férias ao volante de um antigo carro soviético. Não só sobreviveram, mas se divertiram bastante

Visitar o norte da Rússia é o sonho de muitos viajantes. Paisagens sem fim, onde apenas ocasionalmente se encontra nômades pastoreando renas, grandes rios largos que ficam congelados durante metade do ano e cidades inteiras construídas sobre o solo tipo permafrost. A maioria desses locais só pode ser alcançada por via aérea ou, no inverno, por veículo, quando os rios e o solo pantanoso congelam e se transformam em estradas improvisadas temporárias. Uma desvantagem da viagem são as temperaturas que podem cair para 40 graus negativos ou menos, além da falta da infraestrutura, como hotéis, supermercados e postos de gasolina. Mas nada disso desanima algumas pessoas, que continuam a atravessar essas estradas de inverno: caminhões, transporte público intermunicipal e carros comuns. Ninguém, porém, dirige longas distâncias sem equipamento especial.

Os companheiros de viagem Aleksêi Jirúkhin (de Samara), Aleksandr Ielikov (Tver), Dmítri Gostinschikov (Tcherepovets) e Natália Chipovskaia (Moscou) decidiram provar que não é preciso ter milhões de rublos na conta ou os mais modernos SUVs para enfrentar o Ártico e o Extremo Norte da Rússia.

Moskvitch

O Moskvitch 1981 custou o equivalente a R$ 4 mil. O valor foi rateado entre os quatro eventureiros

A viagem do grupo aconteceu a bordo de um Moskvitch verde de segunda mão, saído de fábrica em 1981, e que compraram coletivamente por apenas 70 mil rublos (aproximadamente US$ 800).

Dois dos quatro entusiastas são pessoas bem preparadas para este tipo de aventura. O empresário Aleksêi (39 anos), tem um blog há muito tempo sobre viagens pelo Ártico e já esteve por lá muitas vezes em diferentes veículos. Já Aleksandr (45) trabalha como mecânico de automóveis e motorista de caminhão pesado, foi guia do Ártico e participou de inúmeras expedições radicais. Ele, inclusive, viajou duas vezes para Dickson (73°30′), o assentamento mais setentrional da Rússia. Junto com Aleksêi, os dois seguiram em um veículo off-road até o Cabo Tcheliuskin, o ponto mais ao norte do continente eurasiático.

Moskvitch

Frio intenso, podendo chegar aos 40 graus negativos

BMW 2002 Tii 1972
R$ 220.000,00

Ford Jeep CJ-5
R$ 48.000,00

FNM 2000 JK
R$ 120.000,00

VW Brasília 1974
R$ 22.000,00

R$ 14.000,00

VW Fusca 1200 1965
R$ 49.000,00

Ford Corcel de Luxo
R$ 30.000,00

R$ 120.000,00

R$ 32.000,00

R$ 25.000,00

Os outros dois — menos experientes — do grupo são: Dmítri (26), cujo amor pelo Norte está apenas começando; e a aposentada Natália (58), que derrotou o câncer há alguns anos e decidiu que era hora de viajar. Ela encontrou Aleksêi nas redes sociais e, após um tempo, passou a fazer parte da equipe.

De Moskvitch, com direito a um boi-almiscarado

A beleza da aurora boreal e o “encasacado” boi almiscarado

Os aventureiros partiram da Praça Vermelha, em Moscou (foto principal), no dia 3 de dezembro. Primeiro, eles percorreram 1.200 km pela rodovia M8 ‘Kholmogori’ e chegaram a Arkhanguelsk, uma das principais cidades do Norte Russo e famosa por sua arquitetura em madeira. Em alguns dias na região, eles puderam visitar o museu ao ar livre ‘Malie Koreli’, caminhar ao longo da margem do Duína do Norte e andar de motoneve sobre o gelo do Mar Branco.

Depois disso, eles viajaram pelas estradas do norte rumo a leste. As temperaturas já chegavam a 35 graus negativos lá fora, mas o carro ainda conseguia dar partida. E então seguiram pela República de Komi, Território de Perm, regiões de Novosibirsk, Kemerovo e de Irkutsk e, de lá, ao longo de uma estrada de inverno para a Iakútia – as cidades de Mirni e Udatchni.

Moskvitch

Problemas mecânicos ao longo da viagem

Os problemas com o Moskvitch passaram a ser diários

“Removemos o radiador, retiramos o semieixo. Várias peças caíram e as colocamos de volta no lugar com parafusos auto-roscantes, fita adesiva e arame”, conta Aleskêi.

A vila mais ao norte na Iakútia

A estrada de inverno Ust-Kut-Mirni, uma das mais difíceis do país, leva à Iakútia, a região mais fria da Rússia. “Em 1.100 km não havia postos de gasolina, apenas alguns cafés. Tínhamos galões de gasolina até mesmo aos nossos pés”, continua o aventureiro.

Moskvitch

Muita gasolina extra por causa da ausência de postos

Nesses locais era possível não só almoçar, mas também desfrutar de uma bania (tradicional sauna russa), o que ajudava muito na estrada. No caminho, encontraram lobos, glutões, renas, alces e até um boi-almiscarado. E, claro, as luzes da aurora boreal. Nenhum urso, porém, pois eles dormem no inverno.

As estradas de inverno na Iakútia conectam as áreas mais remotas e se estendem por milhares de quilômetros. Os viajantes decidiram seguir até Iuriung-Khaia (72°48′), a vila mais ao norte do Extremo Oriente Russo, que fica a outros mil quilômetros ao longo da estrada de inverno de Anabar. Pelo caminho, pararam em todos os assentamentos: Olenek, Jilinda, Saskalakh. Lá, o Moskvich verde — tão raro por essas bandas — foi uma sensação.

“Queríamos chegar ao ponto mais ao norte da Iakútia e do Cabo Paksa, no Extremo Oriente, mas fizemos isso em um AVT Trekol, porque lá não há nem estradas de inverno, apenas terras virgens brancas como a neve.”

O Ártico acessível

Esta já é a terceira aventura deles pelo Extremo Norte a bordo do Moskvitch. No ano passado, eles presenciaram o inverno e o verão em Iamal: primeiro em Salekhard, depois em Novi Urengoi, onde ficaram com pastores nômades, viram a lendária Ferrovia Transpolar abandonada e um poço super profundo.

“Nosso principal objetivo é mostrar o turismo acessível. Você pode viajar pela Rússia e até pelo Ártico no carro mais simples. Não precisa economizar para comprar um SUV bacana e ter milhões de rublos. Fizemos isso em um Moskvich velho, conprado por 70 mil rublos”, diz Aleksêi.

“Dirigimos de acordo com a rota do sistema de navegação que havíamos baixado antecipadamente. Todas as estradas de inverno estão no mapa e é realmente difícil se perder, pois seguem em direção única rumo ao norte.”

A viagem inteira durou cerca de 45 dias. Os viajantes voltaram para casa de avião, deixando o Moskvitch em Mirni. Agora, eles planejam voltar no verão para continuar explorando as maravilhas da Iakútia.

Redação: Anna Sorôkina
Fotos: Aleksêi Jirúkhin
Matéria gentilmente cedida por Russia Beyond, onde foi originalmente publicada


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