Muitas vezes confundido com o Gordini comum, essa versão teve baixa produção. A potência aumentou, mas faltaram apelos visuais que dessem a ele um perfil verdadeiramente esportivo
“A indústria automobilística brasileira ganhou no último dia 5 de novembro o seu mais novo representante, com o lançamento pela Willys, na pista de Interlagos, o seu novo produto — o Renault 1093”. Assim, a revista Mecânica Popular de dezembro de 1963 noticiava a apresentação da versão apimentada do Gordini, que contou com a participação dos famosos pilotos da Equipe Willys.
O Renault 1093 na revista Mecânica Popular e na propaganda que enaltecia os 12 volts
A primeira versão brasileira desse simpático carrinho nasceu em 1959 e foi fruto da inusitada parceria da americana Willys — que fabricava aqui o Jeep, o Aero, a Rural e a Pick-up Jeep Willys — com a marca francesa. Tinha o mesmo nome do modelo vendido na França: Dauphine. Três anos depois, ganhou um motor mais potente, com os famosos “40 hp de emoção”, alardeados pela Willys em suas propagandas. E para marcar bem essa melhoria de potência, o sedanzinho de quatro portas mudou de nome, passando a se chamar Gordini. O nome em homenagem ao preparador de automóveis francês Amédée Gordini, nada tem a ver com o Renault Gordini fabricado na França, que era a versão esportiva do Renault 8 (uma evolução do Dauphine por lá). Mas isso já é outra história…
Equipe Willys
Voltando ao nosso Gordini, no início dos anos 1960 a Equipe Willys colecionava vitórias nas pistas com seus Interlagos. Outro modelo fabricado pela Willys sob licença da Renault e primeiro carro nacional com carroceria em fibra de vidro, o Interlagos era nossa versão do Alpine A108 e estava disponível nas versões Coupê, Conversível e Berlineta.
Foi então que a Willys achou que era hora de dar aquele gostinho de pista ao carro-chefe de sua linha Renault. Começavam então em 1962 os estudos de uma versão mais potente e (pouco!) esportiva do Gordini.
Nasce o Renault 1093
Batizado apenas de Renault 1093 — sem “Gordini” no nome — é importante notar que o número faz referência ao código interno da fábrica, nada tendo a ver com a potência do motor, como vamos falar mais adiante.
Curiosamente, o emblema “1093” aparece apenas de um lado
Visualmente poucas diferenças eram percebidas. Exceto pelo emblema “1093” com duas bandeirinhas quadriculadas na lateral esquerda (e “Renault” no lado direito), externamente, o 1093 era igual ao Gordini convencional: mesmas rodas, frisos, parachoques, lanternas… Nenhuma faixa, adesivo, faróis auxiliares, entradas de ar, rodas especiais, ou qualquer outro detalhe que desse a ele um design de fato esportivo, algo inclusive criticado pela imprensa especializada na época. “Como está, é um leão escondido em pele de cordeiro”, comentou a Mecânica Popular na época.
Destaques dos classificados
O Renault 1093 esteve disponível em apenas duas cores: a vermelha e a dourada. Em relação a isso, encontramos uma pequena controvérsia. Algumas fontes citam a dourada como sendo exclusivamente a de lançamento (1963/64), passando à vermelha no ano seguinte. Já a literatura de época fala o contrário e acreditamos ser essa a versão correta. Inclusive é dourado esse exemplar 1965 de nossa foto principal e que pertence à Coleção Automóveis do Brasil, de São Paulo. Já o carro da capa da revista Mecânica Popular de 1963 que publicamos acima é vermelho, fato que reforça a nossa afirmação.
O painel contava com um conta-giros francês
Internamente também há somente três alterações em relação ao Gordini, ambas no painel. A primeira, o conta-giros francês da marca Jaeger, a segunda o emblema “1093” no lugar do rádio. A terceira diferença é mais sutil: o otimista velocímetro, que marca 180 km/h, ao invés dos 160km/h do Gordini. Faltaram ao menos bancos com forrações especiais e um volante esportivo.
Mecânica apimentada
O grande barato do Renault 1093 estava no desempenho. Mas, diferente do Interlagos, que podia vir equipado com motores mais potentes (até 998 cm³ e 70hp), o 1093 tinha o mesmo motor Ventoux 4 cilindros de 845 cm³ do Gordini. Mas alguns detalhes mecânicos faziam toda a diferença. O Carburador Solex 32 Paia-3 era de corpo duplo. O motor originalmente de 40 hp brutos, ganhou também comando de válvulas especial, e válvulas com hastes mais grossas e molas duplas. O coletor era do tipo 4/1. Com tudo isso, a taxa de compressão aumentou de 8,0:1 para 9,2:1. O câmbio ganhou quarta marcha mais curta. Tudo isso fez a potência subir para 53 hp brutos. O ronco do motor ficou diferente! O uso da extinta “gasolina azul” era “mandatório”!
Carburador e coletor especiais. A plaqueta adverte para o uso de gasolina azul
Pequena mudança também na suspensão, que ficou um pouco mais firme e o carro levemente rebaixado. Os freios permaneceram a tambor nas quatro rodas, mas os dianteiros ganharam aletas para melhorar a eficiência. Outra melhoria foi no sistema elétrico, que era de 12 volts, enquanto no Gordini era ainda de 6 volts.
Os testes oficiais da fábrica mostram o resultado desse conjunto de melhorias: o Renault 1093 fez de 0 a 100 km em 22,2 segundos. Número praticamente igual ao obtido pela Mecânica popular e considerado bastante satisfatório na época.
Em dois anos foram vendidos somente 721 exemplares do Renault 1093. Imagine quantos restaram ainda hoje em perfeito estado e no padrão original?
Texto e edição: Fernando Barenco
Fotos: Nilton Parisoto e Odair Ferraz
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