10 Perguntas ao Presidente, com Fatima Barenco

ENTREVISTA: Luís Augusto Malta – Clube de Veículos Antigos de Minas Gerais

“Participar de um rally de carros clássicos envolve sensações intensas!”

Ele é Médico Psiquiatra de profissão, casado com Júlia, pai de Felipe e André. Entre outros automóveis, é dono de um Fusca 1300 1969 e de uma Caravan 1976, que estão na família desde sua primeira infância, e nos quais cresceu e tomou gosto pelo carro antigo. Preside o Clube de Veículos Antigos de Minas Gerais há um ano e meio, desde a sua fundação em 2015. Seu clube tem se especializado em rallys, e o mais curioso é que essa ideia surgiu no quintal de sua casa. Então vamos conhecer toda essa história na entrevista com o presidente Luís Augusto Dias Malta.


1Em primeiro lugar queremos conhecer a história do Clube de Veículos Antigos de Minas Gerais.

Luís Augusto — Prezada Fátima, gostaria de agradecer a oportunidade e a gentileza da entrevista para o Maxicar. É, sem dúvida, um canal e tanto para registrarmos e divulgarmos nossas atividades.

Respondendo à sua pergunta, Belo Horizonte, até 2014, tinha uma situação bem definida entre os colecionadores de carros antigos: de um lado, havia um clube com mais de 30 anos de história (o Veteran Car) e enorme relevância no cenário antigomobilista nacional, porém fechado à entrada de novos sócios. De outro, uma série de clubes mais ou menos organizados como confrarias, sem muita representatividade fora dos encontros que eles mesmos organizavam. O CVA nasceu em 2014 como uma dessas confrarias, organizando encontros privados entre os membros de um grupo de WhatsApp chamado Gentleman Driver’s Club, mas precisou amadurecer rápido para ter voz junto à Federação Brasileira de Veículos Antigos e respaldo da mesma para a organização de rallys de regularidade para automóveis clássicos. Hoje contamos com 25 sócios e, a cada aniversário do clube, pretendemos abrir nossos quadros a novos membros que sintam afinidade com a nossa proposta.

De um singelo Lada Laika a uma exuberante Ferrari Testarossa, um pouco do acervo do CVA-MG no dia da sua fundação, em 01 de agosto de 2015
De um singelo Lada Laika a uma exuberante Ferrari Testarossa, um pouco do acervo do CVA-MG no dia da sua fundação, em 01 de agosto de 2015

2 O clube se especializou na realização de rallys. Como surgiu essa idéia?

Luís Augusto — Posso me orgulhar dessa idéia ter surgido no quintal da minha casa… Foi assim: moro em um condomínio fechado e a rua da minha casa é larga o suficiente para que os carros parem a 45 graus. Num churrasco para os amigos do Gentleman Driver’s Club, todos foram de carro antigo e aqueles 10 ou 12 carros perfilados na porta da minha casa pareciam prontos para uma largada, no melhor estilo 24h de Le Mans. Aí alguém lançou a idéia de fazer um rallys com eles e o resto da história está registrado aqui mesmo, no Maxicar, (aqui e aqui!) e no site do clube (cvamg.blogspot.com).

VW Fusca 1300 1968
R$ 33.000,00

BMW 2002 Tii 1972
R$ 220.000,00

Mercedes-Benz 280S 1971
R$ 150.000,00

Ford Jeep CJ-5
R$ 48.000,00

VW Brasília 1974
R$ 22.000,00

R$ 48.900,00

Ford Escort XR3 1992
R$ 29.900,00

R$ 110.000,00

R$ 45.000,00

Porsche 924 1977
R$ 150.000,00

3 Vocês já realizaram o Raid Estrada Real e o Rally das Alterosas. Nos fale sobre eles.

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Momento do I Raid Estrada Real, em maio deste ano

Luís Augusto — Na verdade, já fizemos três rallys: o Rally Gentleman Driver’s Club, o I Raid Estrada Real e o Rally das Alterosas. O primeiro foi um evento inicialmente despretensioso, de baixo custo, para tornar realidade a idéia de organizar um rally de regularidade para automóveis antigos. Pretendíamos colocar uns 20 a 25 carros no grid, mas a aceitação foi tamanha que nada menos que 34 carros largaram nesse primeiro evento. Como não éramos um clube formalizado, tivemos que contar com o apoio do Veteran Car, na pessoa do Presidente Dr. Otávio Carvalho, para dar respaldo legal à prova, cujo sucesso levou à formalização do CVA e ao Raid Estrada Real, um evento glamouroso no qual nada menos que 71 carros de alto nível fizeram inscrição e que contou com diversas empresas parceiras, entre as quais destaco a Manoel Bernardes Jóias, que enxergou, no bom gosto dos colecionadores e em seus valiosos carros, um espaço interessante para divulgar sua marca – e acho que não se arrependeu! Mais uma vez o sucesso foi muito acima da expectativa, o que fez com que o CVA criasse uma nova prova, o Rally das Alterosas, nos mesmos moldes do Rally Gentleman Driver’s Club, para a turma que abraçou a ideia matar um pouco da vontade de colocar seus carros para competir até a nova edição do Raid Estrada Real, que se tornou o carro-chefe do clube. E mais uma vez, o sucesso foi estrondoso, com 42 carros inscritos, excedendo as 40 vagas inicialmente disponibilizadas.

4 Muito difundidos na Europa, os eventos móveis como os rallys de regularidade são menos populares aqui no Brasil. Você acha que essa é uma tendência que agora vem crescendo entre os antigomobilistas brasileiros também?

Luís Augusto — A cultura antigomobilista brasileira – aliás, a cultura brasileira contemporânea, de um modo geral – tende a se espelhar muito no que é feito nos EUA. Lá, os grandes eventos são estáticos, com carros em “showroom conditions” (ou até melhores do que isso), e eventos comerciais. É natural, portanto, que os dois grandes eventos brasileiros (Araxá e Águas de Lindóia) sejam inspirados nos maiores encontros norte-americanos (o glamouroso Pebble Beach e o comercial Hershey, respectivamente), enquanto no resto do mundo, inclusive nos nossos vizinhos sul-americanos, os rallys de carros clássicos dividem espaço de igual para igual com eventos estáticos. Entretanto, o Classic Car Club do RS, junto com outros clubes gaúchos, já organizam rallyes de carros antigos há muitos anos, inclusive com um campeonato bem estruturado, enquanto o MG Club, de São Paulo, tornou realidade as Mil Milhas Históricas Brasileiras, inspiradas na célebre Mille Miglia italiana. Portanto, a semente já foi lançada há tempos e tende a render frutos na medida em que as pessoas vão tomando conhecimento de como esses eventos são divertidos. Em Minas Gerais, apesar de termos uma malha rodoviária gigantesca e paisagens deslumbrantes, a cultura do rally de carros clássicos demorou a pegar e o CVA acabou sendo o pioneiro nessa tradição no nosso estado.

Rally das Alterosas
Rally das Alterosas

5 Como você vê o momento do antigomobilismo da grande Belo Horizonte, já que você é o Diretor Regional da Federação Brasileira de Veículos Antigos dessa região?

Luís Augusto — A FBVA, na gestão do Presidente Roberto Suga, tem estimulado os clubes a se formalizarem e se filiarem, num esforço para democratizar e, ao mesmo tempo, colocar alguma ordem no movimento antigomobilista, que cresceu numa escala vertiginosa nos últimos 15 anos, com todos os efeitos colaterais que um crescimento desordenado traz. A grande BH deve ver, nos próximos anos, diversos clubes se estruturando para fazer parte dos quadros da FBVA, entre os quais destaco o Clube de Veículos Antigos de Nova Lima que, graças à brilhante gestão do Presidente Jorge Filho, é o que consegue atrair mais carros para os eventos que organiza.

6 Você é um grande conhecedor de automóveis clássicos, tendo sido inclusive no passado colunista do Portal Maxicar. Como nasceu essa sua paixão pelo assunto e qual o seu xodó sobre rodas.

Luís Augusto — Obrigado pelo elogio, mas não sou exatamente um grande conhecedor… A cultura do carro clássico é fascinante porque envolve várias facetas. O entusiasta pode se interessar por mecânica, design, cultura pop, marketing e por aspectos políticos e mercadológicos que determinaram os rumos da evolução do automóvel. Pode gostar apenas dos carros que marcaram sua infância ou dos carros de um passado idealizado e imortalizado no cinema e na TV. Pode gostar de carros sobreviventes de épocas passadas que são verdadeiros achados arqueológicos ou de automóveis primorosamente restaurados que ficam até melhores do que quando eram 0 km. Um entusiasta dos muscle cars dos anos 60, capaz de converter de cabeça polegadas cúbicas em centímetros cúbicos, pode não saber a diferença de um Triumph para um Austin-Healey, assim como um excelente negociante de carros antigos pode ter um olhar de lince sobre a qualidade de um carro sem nunca ter aberto um livro ou revista sobre cultura automotiva. Toda essa diversidade faz com que esse círculo, que movimenta bilhões de dólares por ano em todo mundo, tenha seu brilho renovado a cada bate-papo entre os entusiastas.

Kombi 1974: o o xodó sobre rodas
Kombi 1974: o o xodó sobre rodas

Minha paixão pelos carros antigos, que deixei registrada no blog Antigomóveis (antigomoveis.blogspot.com) entre 2008 e 2013, começou ainda na infância, ouvindo meus pais contarem os “causos” envolvendo os carros dos seus tempos de criança e acabou sendo envolvida por um pouco de cada uma dessas facetas.

Sobre meus carros, todos têm sua importância por diversos motivos, sendo que alguns deles estão na família desde a minha mais remota infância, mas o xodó mesmo é uma Kombi Motor-home 1974 tão bem conservada que conta, inclusive, com a pintura de fábrica. Dirigi-la é uma verdadeira viagem no tempo e um grande prazer.

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Fusca e Caravan: na família desde a infância

7 Qual é a sensação de participar de uma prova? Conte um episódio que o tenha marcado em uma de suas participações.

Com o filhos durante a premiação do Rally da Estrada Real
Com o filhos durante a premiação do Rally da Estrada Real

Luís Augusto — Participar de um rally de carros clássicos envolve sensações tão intensas, que as pouco mais de quatro horas de duração de uma prova do CVA passam como se fossem algumas dezenas de minutos. O espírito competitivo é aguçado, a sensação de sinergia entre piloto, carro e navegador é algo quase mágico, a luta para corrigir os contratempos que vão ocorrendo no decorrer da prova despeja adrenalina no sangue. Tudo isso tendo, como pano de fundo, uma reunião de automóveis clássicos, essas máquinas maravilhosas que tanto cultuamos. Participar de uma competição pilotando um MGB inglês, como é meu caso, me dá a sensação de ser um legítimo Gentleman Driver dos anos 60.

O episódio mais marcante foi a conquista do primeiro lugar no I Raid Estrada Real. Eu esperava uma boa colocação, mas o primeiro lugar, em um evento tão especial, num carro tão significativo para mim, realmente foi inesquecível.

8 Para quem ainda não teve a oportunidade de participar, quais os requisitos e conselhos tanto para quem deseja ser piloto, quanto para o navegador?

Luís Augusto — Para se divertir em um rally de carros antigos, é sempre importante lembrar que ele é feito com uma equipe de três integrantes: carro, piloto e navegador. É importante ter um carro confiável e estável para cumprir bem as médias estipuladas; é importante que o piloto seja disciplinado e saiba tomar decisões rápidas quando o navegador se complica e é importante que o navegador saiba interpretar bem os parâmetros da planilha. Um ponto que surpreendeu foi a adesão das esposas dos colecionadores nas competições, algumas delas com desempenho brilhante como navegadoras e um entusiasmo raramente visto no público feminino em eventos de antigomobilismo.

9 O Clube já planeja novos rallyes para 2017?

Luís Augusto — Sim, já temos na agenda o II Raid Estrada Real, marcado para o último final de semana de maio e, muito provavelmente, uma nova edição de um rally mais simples, de baixo custo de inscrição, para o segundo semestre, como foi o último Rally das Alterosas.

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Os MGs no II Raida da Mantiqueira, em 2013. Na frente Max Acrísio, do Rio de Janeiro e atrás, Luís Augusto Malta

10 Nossa entrevista está chegando ao fim e deixamos aqui com a palavra o amigo e presidente Luis Augusto Malta, para que deixe uma mensagem aos antigomobilistas que prestigiam o Portal Maxicar e agradeço imensamente por podermos mostrar a cada mês um pouco sobre cada clube pelo Brasil.

Luís Augusto — O antigomobilismo não para de crescer no Brasil. A cada ano, mais e mais apaixonados por essas máquinas se candidatam a entrar para essa grande confraria e resgatar um passado que vai ficando cada vez mais romântico e idealizado, na medida em que o carro atual perdeu muito do seu apelo, enquanto extensão da personalidade do seu dono. Meu recado vai para esses neófitos: escolham bem o modelo que querem em sua garagem e, a partir de então, passem a estudar suas características e sua história, independentemente de questões mercadológicas. Comprem publicações de época, mergulhem no universo daquela marca ou modelo. O prazer que um automóvel antigo te dá será proporcional à sua dedicação a ele e ao universo que o envolve, independentemente se for um nacional dos anos 80 ou um clássico dos anos 50.

 

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