Mosca Branca

Uno SX 1984-1986: o ensaio esportivo da Fiat

Foto do Acervo Fiat

De estilo bem discreto, essa versão quase desconhecida foi a precursora do 1.5R

Um dos carros mais longevos da história da indústria automobilística nacional, o Fiat Uno foi fabricado ininterruptamente por 29 anos, de agosto de 1984 até dezembro de 2013. Com tantos anos de produção é natural que o veículo tenha vários modelos pouco conhecidos, que a falta de informação especializada tornam ainda mais obscuros; afinal, tivemos mais de trinta tipos de Uno diferentes, que vão desde o Turbo até o Mille Fire Economy.

Hoje, o assunto desse artigo no Mosca Branca é um modelo quase desconhecido, fabricado logo no início da produção, entre 1984 e 1986, e que foi a primeira experiência da Fiat para um Uno esportivo: estou falando do Uno SX.  (Não confundir com o Mille SX 1997, esse sim, amplamente conhecido).

Buscando se destacar no mercado nacional com um projeto mundial e inovador, a Fiat lançou o Uno no Brasil em agosto de 1984, nas versões S básica e CS completa. Dois meses depois, em outubro de 1984 surgia a versão SX Esport Experimental, com uma proposta esportiva/luxo, inspirada nos Unos SX europeus.

Um Uno SX 1984 testado pela Auto Esporte; apesar de ser o topo da linha Fiat na época, o retrovisor esquerdo era opcional  (Foto: Revista Auto esporte, nº 240 1984)


Ao contrário dos outros esportivos nacionais da época, o estilo do Uno SX era marcado pela discrição.  Externamente as diferenças mais marcantes para os outros Unos eram as supercalotas, com furos quadrados, que recobriam todo o aro, imitando uma roda de liga leve e as molduras plásticas pretas que guarneciam as bordas dos para-lamas e as caixas de ar, dando uma aparência reforçada ao modelo. Também o espaço entre o para-brisa e o capô era pintado de grafite escuro, desenhando uma faixa estreita (inexistente nos modelos pretos).

Um Uno SX 1986 durante bateria de testes na Quatro Rodas (Foto: Revista Quatro Rodas nº 309 – Abril de 1986)


Na frente, destacavam-se os faróis de longo alcance Cibié Serra II, embutidos e arrematados por uma lente acrílica no para-choque, que por sua vez, vinha com spoilers integrados.

A traseira era exatamente a mesma dos outros, apenas o nome Uno SX identificava o modelo por trás.

Acima, um raro Uno SX pré-série, com alguns detalhes não incorporados à produção, como a tarja preta na tampa do porta-malas (Foto: acervo Fiat)
Abaixo, o interior com melhor acabamento (Foto: acervo pessoal) 

Internamente, estava a principal melhoria, marcada por um acabamento mais refinado. Os bancos, de espuma espessa, eram revestidos com um tecido exclusivo, quadriculado de preto e cinza claro/escuro e tinham as laterais e costas acabadas em courvim. O mesmo tecido quadriculado também era usado na forração das laterais.

Painel completo, volante de quatro raios e console (Foto: Revista Quatro Rodas nº 309 – Abril de 1986)


O volante de quatro raios também era exclusivo, assim como o painel de instrumentos completo, que tinha velocímetro, tacômetro, marcadores de gasolina, temperatura e pressão do óleo, com ponteiros e números limites em laranja-avermelhado.

As portas eram equipadas com uma grande peça plástica que englobava o descansa-braço, porta revistas, puxador e caixa de alto falantes.

Um conjunto de guarnições plásticas que recobriam os metais aparentes (isso era opcional nos outros Unos), vidros traseiros basculantes, resistência térmica desembaçadora, relógio digital englobando luz de leitura/espelho retrovisor, e um console porta objetos, completavam o interior de série.

A diferença estava no carburador (Foto: acervo pessoal)


Mecanicamente, o motor do Uno SX era o mesmo 1300 Fiasa do restante da linha Uno e que viera para o Brasil com o Fiat 147. Todavia, no SX, esse motor recebia um carburador de corpo duplo Weber 460 e, seguindo a mesma receita do 147 Rallye, produzia 70cv/10,6 kgf. na versão álcool e 71cv/10,4kgf. na versão gasolina, contra 59cv/10kgf do Uno CS. Onze cv de diferença que auxiliados pela caixa de 5 marchas de série, garantiam zero a cem em 15,3s, e 155 km/h de final, cinco quilômetros a mais do que na versão CS comum, mantendo a mesma aceleração e consumo.

Campanha de lançamento do Fiat Uno, traz um SX como ilustração, apesar do modelo só chegar ao mercado dois meses depois  (Foto: acervo Fiat)


Modesta superioridade, mas suficiente para deixar o Uno SX também à frente do Spazio TR (150km/h), empatado com o Oggi CSS (155km/h) e a 12 km/h dos mais famosos esportivos da época o Gol GT (168km/h) e o Escort XR3 (165 km/h).  Um rendimento aceitável, especialmente, considerando que o motor Fiasa não era modificado em nada, apenas no carburador. Certamente, a ótima aerodinâmica e o baixo peso do projeto original eram fundamentais para o resultado.

A suspensão, freios, direção, também não mudavam para o Uno CS, embora, o SX trouxesse de série o recurso da barra estabilizadora de direção.

O engenheiro mecânico Daniel Ribeiro, na época funcionário da Fiat, ao lado de um Uno SX, premiado com “Carro do Ano de 1984” pela revista Auto Esporte (Foto: Blog do Flávio Gomes)


Fazendo sucesso entre o público jovem, o SX comprovou a viabilidade da linha Uno esportiva e foi descontinuado em 1986, dando lugar ao Uno 1.5 R que assumiu abertamente esse papel. Embora, o R trouxesse um novo motor, Sevel 1500, preparado, ele herdou quase todos os acessórios e equipamentos do SX, reforçando o caráter experimental do modelo. Posteriormente, a Fiat foi incrementando cada vez mais sua linha esportiva, até culminar no famoso Uno Turbo (1994-1996).

Agora, que o Fiat Uno começa a conquistar seu espaço no campo dos carros antigos, o desconhecido SX também terá seu lugar ao lado das séries esportivas nacionais que marcaram a década de 1980. Ainda é possível encontrar alguns exemplares a venda, embora muito poucos mantenham as características originais.

Propaganda apresenta o computador de bordo, modelo do Prêmio CS. No SX o painel do computador de bordo seguia o padrão da linha, com ponteiros e números limite em laranja avermelhado (Foto: Acervo Fiat)


Antes de terminar, uma curiosidade, o Uno SX 1986 divide com o Premio CS o mérito de ser o primeiro carro nacional com computador de bordo, um sofisticado equipamento opcional, que calculava e fornecia ao motorista dados como: consumo, velocidade média, autonomia entre vários outros, a partir de sensores instalados no tanque e no carburador.  Por ser um acessório caro, de difícil manutenção e que tomava o lugar do conta-giros no painel, poucos SX foram equipados com ele, tornando-os exemplares raríssimos hoje.

 

A seção “Mosca Branca” fala sobre automóveis nacionais  realmente raros. Quer fazer uma sugestão de modelo para as próximas edições? Então use o espaço de comentários ai em baixo!

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Geraldo Costa

Graduado em Letras Literatura, fã dos automóveis antigos em geral e dos “novos antigos”, carros até 1990, dos quais gosta de pesquisar histórias e detalhes. Entusiasta do Fiat Uno, também atua como moderador no fórum online do “Clube do Uno Brasil.”

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