Francis Castaings

Alfetta GTV: belo coração veloz

Com design de Giorgetto Giugiaro, o moderno cupê italiano fez sucesso também nas pistas

Atradição de automóveis rápidos sejam sedans ou cupês, numa das mais famosas empresas de esportivos no mundo, a Alfa Romeo de Milão, é uma tradição desde sua fundação no século passado, em 1906. Essa imagem se consolidou nas pistas da Europa, na década de 1930 e após a Segunda Guerra, nas décadas de 1950, 60 e 70 principalmente. É uma marca que tem clubes e aficionados em quase todo mundo, quase uma religião.

Alfa Romeo 1900 1952

Na década de 1950, ainda se reerguendo do conflito, a Alfa lançava o sedan 1900 que vendeu muito bem e deu um sopro de otimismo nas finanças da empresa. Também neste período, foram lançados o pequeno três volumes Giulia e sua versão esportiva Giulieta. Tinha uma linda carroceria, muito difícil de ser modernizada, alterada, evoluída.

Giulia Sedan

Em 1963 nascia o novo Giulia sedan e logo viria sua versão cupê esportiva, logo conhecida como Bertone GT. Um carro de linhas distintas e únicas. Este tinha motores com quatro cilindros em linha em posição longitudinal com cilindradas variando de modestos 1.300 cm³, 1.600, 1.750 até 2.000. Fizeram enorme sucesso versões como a GTA e a Veloce. A idade chegava após uma década de produção e via-se a necessidade de mudanças.

Em 1971 foi lançado um belo sedan quatro portas de porte médio que ostentaria um nome mágico da marca: Alfetta! Este já tinha sido utilizado em carros de corrida na década de 30, precisamente em 1938, Alfa Tipo 158 e depois usado no modelo 159 de 1951. Ganhou o campeonato mundial de Fórmula Um na categoria construtores em 1950 e 1951.

Alfetta Sedan 1971

E em maio de 1974 chegava sua versão esportiva denominada Gran Turismo Veloce, ou seja, GTV. Com assinatura de Giorgetto Giugiaro, famoso designer italiano, mestre de grandes obras de arte e sucesso sobre rodas como o VW Passat, o esportivo VW Scirocco, o Audi 80 e o BMW M1, entre outros. O cupê 2+2 tinha linhas modernas, ótima visibilidade — coisa rara em um esportivo — e muita identidade com a marca. Visto de frente quatro faróis circulares, grade preta plástica com frisos horizontais. E o belo e famoso coração central que conquistou muitos em todo o mundo. Abaixo luzes de seta retangulares. Com ótima aerodinâmica, tinha desenho lateral agradável, frente em cunha, amplos vidros e frisos discretos. Na borda traseira havia a inscrição GTV. Tinha pára-choques cromados, rodas em aço estampado com pequenas calotas cromadas discretas, mas com desenho esportivo e bonito. Ficava bem com cores claras ou escuras, mas a demanda maior era o tradicional vermelho.

Alfetta GTV

O compartimento de bagagens era bom e o acesso não muito convencional, pois a grande porta traseira tinha abertura na linha do restante dos vidros do carro. Para colocar malas, precisava-se ter bons músculos para levantá-las. Já a capacidade ganhava aplausos. Por dentro, na frente era ótimo para os dois ocupantes, atrás — como é típico de um 2+2 — apenas razoável.

O curioso painel, com conta-giros diante do motorista

O painel trazia outra novidade. Na frente do belo volante com aro de madeira de três raios, havia só o conta-giros graduado até 8.000 rpm, começando a faixa vermelha aos 6.000. Ao centro velocímetro, com indicações otimistas até 240 km/h, marcador de temperatura de água, nível de tanque de gasolina, pressão de óleo e diversas luzes espia. Apesar do desenho pouco comum, era bonito. A posição de dirigir era ótima e bancos acolhedores tinham apoios de cabeça. Este esportivo pesava 1.060 quilos e media 4,09 metros. Os pneus radiais podiam ser nas medidas 165 X 14 ou 185/70 X 14.

O 4 cilindros 2000 rendia 122cv

Em 1976 era lançado o GTV 2000 com 1.962 cm³ e 122 cavalos a 5.300 rpm. Mantinha os dois carburadores duplos da marca Solex ou Dell’Orto, mas para o mercado americano ganhava injeção da marca Spica. Também como opcionais, rodas em liga leve. Chegava a 197 km/h e passou a atrair mais olhares. A suspensão dianteira tinha triângulos superpostos, barras de torção, e amortecedores telescópicos. Atrás eixo De Dion, braços arrastados, amortecedores hidráulicos, molas helicoidais e as barras estabilizadoras estavam presentes na frente e atrás. Os freios eram a disco nas quatro rodas com duplo circuito. Agarrava bem o solo. Por dentro os estofamentos recebiam veludo ou couro como opção. Antes o tecido comum e o courvin não haviam agradado muito.

Como opcionais também havia o ar condicionado e o teto solar. Para a América ia completo. Na frente a grade preta plástica ganhava dois frisos com acabamento cromado.

O poderoso GTV8

Em 1977 a empresa Autodelta — fundada pelos engenheiros Carlo Chiti e Ludovico Chizzola em 1963 e que assumiu em 1966 o serviço de competições da Alfa — lançou um modelo que usava o motor V8 do irmão esportivo mais luxuoso — o Montreal — com 2,6 litros e 200 cavalos a 6.500 rpm. O pequeno monstro chegava a 230 km/h. Foram fabricados apenas vinte exemplares para correr no Grupo 5 da FIA.

O Turbodelta das pistas…

Dois anos depois, outra vez a Autodelta mostrava seus dotes. Preparou o carro e inseriu um turbo compressor da marca KKK, que elevava a potência a 150 cavalos. Para as competições da categoria turismo subia para 175 cavalos. Um concessionário inglês equipou-os com pistões especiais produzidos pela famosa casa inglesa Cosworth, turbo Garret e sua velocidade final era de 205 km/h. Foram produzidos cerca de 500 exemplares para a homologação do GTV Turbodelta.

… e sua versão de rua

1980 foi o ápice do modelo com a apresentação do GTV6 com seis cilindros em “V” a 60 graus, com duplo comando de válvulas comandados por uma correia, 2.492 cm³ (88 x 68,3 mm), injeção Bosch L-Jetronic e 160 cavalos a 5.600 rpm. O Torque máximo era de 21,7 m.kgf a 4.000 rpm.

GTV6: repare no sobressalto do capô

Era facilmente reconhecido por uma protuberância central, uma elevação no centro do capô. Nesta havia ainda entradas de ar. Também grade totalmente preta, novos pára-choques, luzes de seta inseridas neste e abaixo um discreto spoiler. Nas laterais também novas polainas abaixo das portas e o pára-choque traseiro também preto de poliuretano. Na carroceria era aplicada uma proteção melhor contra corrosão que era um problema endêmico neste carro. Todos os vidros eram verdes. Eram equipados com rodas de liga e pneus na medida 195/60 HR 15 ou como opcional 200/60 x 365. O peso aumentava para 1.280 quilos e a velocidade final para 210 km/h. Seu parceiro na gama era o modelo com motor 2.0 com quatro cilindros. O 1.8 já não estava mais em produção após 22.000 unidades.

Por dentro ganhava painel convencional, mais harmonioso e muito bem equipado.

Concorria em preço e esportividade com o inglês Ford Capri 2600, o primo italiano Lancia Delta Cupê, os franceses Alpine A310 V6, o Peugeot 504 Cupê também com o motor V6 PRV (Peugeot Renault Volvo) e com os alemães Opel Monza 3.0 e o Porsche 924.

“Radiografia” do GTV

Os freios a discos dianteiros eram ventilados para ajudar a parar a fera. Várias séries especiais para vários países eram produzidas. Uma delas era a Grand-Prix com spoiler bem grande destacável na frente, carroceria fornecida somente com pintura vermelha, rodas em liga pintadas de preto e adesivos laterais de gosto duvidoso.

Em 1983 recebia mais retoques na carroceria. Lavadores de faróis especiais e estes recebiam novas molduras. A antena era integrada ao pára-brisa, recebia novos escudos na carroceria e polainas laterais. Na França — para comemorar a vitória no Campeonato de Super Turismo Nacional em 1983 e 1984, nas mãos de Dany Snobeck e Alain Cudini, que deixando marcas concorrentes de prestígio como BMW 320, Rover Vitesse, Audi 80 Quattro e Peugeot 505 Turbo, para trás — era lançada uma série especial com 300 exemplares chamada GTV Production. Tinha decoração diferenciada nos modelos GTV 2.0 e GTV6. O carro de produção, preparado para as corridas, chegava a obter 270 a 280 cavalos a 8.000 rpm.

Também, o piloto francês Yves Loubet venceu no Grupo A FIA, a Volta da Córsega em 1983, 1984, 1985 e 1986. Essas provas eram válidas no Campeonato Mundial de Rali.

Yves Loubet, 1984

No ano seguinte era produzida outra série especial destinada ao mercado sul africano. O motor com seis cilindros tinha 2.934 cm³, 186 cavalos e era equipado com seis carburadores!

Em 1986 infelizmente o belo GTV, já amadurecido, corrigido de alguns defeitos, tinha produção interrompida após 73.000 GTV 2.0 produzidos e quase 16.000 GTV6. Um belo cupê colecionável, cujo modelo GTV 2.0 Turbodelta tem hoje cotação por volta de 20.000 Euros.

 

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Francis Castaings

É Analista de Sistemas por profissão e antigomobilista por muita paixão. Frequenta museus, lojas, salões, exposições, corridas e encontros de carros, antigos ou não, desde 1970. Gosta mesmo dos antigos e o apreço também veio por causa de sua coleção de miniaturas de carros em escalas que variam de 1/76 a 1/18 e que conta até o momento com cerca de 1.500 modelos. Nasceu em 5 de junho de 1959, já fez rali, foi Técnico Superior de Fundição, trabalhando numa fundição de peças para automóveis. Escreveu por 12 anos sobre carros antigos em outros portais e desde julho de 2011 mantém o site Retroauto.