Alexander Gromow

Em breve mais uma Kombi Corujinha restaurada

MISSÃO QUASE IMPOSSÍVEL

O Tonho, aliás Antônio Carlos Carlini Pereira, é um bom amigo de longa data, nos conhecemos em função do projeto CTE2, da CSN, uma usina térmica que aproveita gases do processo siderúrgico para alimentar as caldeiras e gerar vapor para as turbinas e para o processo; ele do lado do cliente e eu como coordenador do fornecimento nacional para aquele empreendimento. Seguem-se algumas fotos da construção e montagem desta moderna usina térmica:

Esta amizade me permitiu conhecer a Tetê, aliás Maria Tereza de Barros Carlini, sua esposa, que participou de meu segundo livro “EU AMO FUSCA II Uma coletânea de causos de felizes proprietários de Fusca” com o delicioso causo “Foi assim…”  E o Tito, aliás José Carlos Carlini Pereira, que é irmão gêmeo do Tonho, que também participou deste livro com dois causos. É uma família muito querida com muitos e diferenciados dons artísticos. Na foto que se segue podemos rever personagens já conhecidas e conhecer o Tonho e seus filhos:

Da esquerda para a direita, em pé, a Tetê, sua filha Thais, o “novato no grupo” Tonho e seu irmão gêmeo Tito, sentado à frente o filho do Tonho o Thales

O Tonho há muito tempo tem como hobby usar a sua criatividade e seus conhecimentos práticos e artísticos para uma grande variedade de trabalhos e vamos ver alguns exemplos do que ele faz com maestria.

Um de seus trabalhos ainda da década do 80 foi a restauração de um Ford Modelo A tipo Pick Up 76-A ano 1929, comprado em 1975 e restaurado entre 1980 e 1987; o trabalho envolveu a desmontagem de toda a lataria e partes mecânicas como o motor, câmbio, diferencial e sistema de freio, bem como extenso trabalho de funilaria. Chegou ao cuidado de importar algumas peças como vidros dos faróis, platinados, tampa do distribuidor, mais conhecida como chapéu de Napoleão. O livro “Restoring the Model A Pick Up” – Restaurando o Modelo A Pick-Up – foi de grande valia para orientar esta restauração. Algumas fotos deste trabalho:

Comprando peças na Alemanha

Por falar em comprar peças no estrangeiro, eu lembro de uma das frequentes viagens que fizemos para a Alemanha – eu e a equipe da CSN da qual o Tonho participava, na década de 90, para as reuniões de coordenação com os fornecedores europeus para a usina térmica da CSN. Em uma delas eu levei o Tonho para uma cidadezinha no sul da Alemanha para comprar peças para um outro projeto dele: a restauração de um Goggomobil. O carrinho estava em reforma e algumas peças eram necessárias para completar o projeto. Seguem-se fotos do Goggomobil sendo reformado pelo Tonho:

Fazia muito frio e, depois de umas horas de viagem chegamos à casa do dono das peças:

Na casa do vendedor das peças o símbolo da GLAS AUTOMOBIL na porta da garagem

Mas o tesouro estava escondido num vilarejo próximo e, chegando lá, tivemos que subir uma escada precária para chegar ao sótão do celeiro que estava abarrotado de peças de daquele tipo de carros. O Tonho estava feliz como um pinto no lixo, mas a alegria foi “amainada” pelos preços que o vendedor pedia pelas incríveis peças “NOS” que ele tinha naquele sótão:

Uma das peças que aparece nas fotos e que acabou não sendo comprada foram os amortecedores envoltos por molas, mas o preço estava “demais da conta”, como o Tonho como bom mineiro concluiu; e trazer estas peças na bagagem de avião poderia ser bastante complicado podendo até aumentar o custo mais ainda:

Finalmente a compra foi concluída, mesmo que a sensação de “quero mais” teimasse em persistir:

A boa sensação de ter obtido peças NOS que só existem na Alemanha e algumas delas só com aquele vendedor

Lá, no andar térreo daquele celeiro, havia uma oficina na qual eram restaurados carros Glas, fabricados pela mesma empresa que produziu o Goggomobil. Esta empresa era a Hans Glas GhbH, que iniciou produzindo motonetas, passando pelos Goggomobil e outros, chegando até a veículos Glas, alguns inclusive com motor V8; esta empresa depois veio a ser absorvida pela BMW.

Hoje em dia raros carros GLAS sendo reformados no térreo do celeiro das peças

Certamente esta incursão na Alemanha em busca de peças para um Goggomobil “perdido” no Brasil e carecendo de algumas peças NOS ficou na história.

Mais recentemente ele pôs a mão na massa num trator Ford 8N de 1949 que agora é pau para toda a obra no sitio dele em Porto Sapucaí, também em Minas Gerais, como podemos ver na foto de entrada desta matéria. Algumas fotos desta restauração:

Depois foi a vez de um Ford Phaenton 1929, que já está terminado e roda normalmente; hoje está numa exposição no shopping aqui em Pouso Alegre. Olha só como foi esta restauração:
Mosaico

Mas não é só de restauração de veículos que vive este bom amigo, pois ele adora trabalhar com madeira e aí vem a parte de marcenaria, na qual ele reproduz réplicas de rádios do tipo capelinha, e relógios de vários tipos como águia, cavalinho, pedestal, e por aí vai. As fotos mostram a qualidade dos objetos que ele produz:

 

 

E não para por aí, pois o Tonho também é um Louthier, ou seja, fabricante de instrumentos de cordas, de mão cheia e tem até a sua marca “Carlini” que comparece orgulhosamente estampada nos rótulos dos instrumentos que ele constrói; suas violas e violões de excelente sonoridade animam saraus e serenatas.

O Tonho tem até uma “garota propaganda” de seus violões muito especial, que é a sua filha Thais, como na foto abaixo:

Um violão Carlini muito bem apresentado, foto do Facebook da Thais

Agora que já sabemos do que o Tonho é capaz vamos à restauração de uma Kombi Corujinha ano 1973 e a história já começa meio atrapalhada, como veremos a seguir. Como ele mesmo definiu: -“agora estou com uma nova missão, quase impossível, restaurar uma Kombi 73, mas como bom mineiro, mais teimoso que uma “mula empacadeira”, não desisto jamais. ”

Esta façanha começou em julho de 2016, se bem que ele tinha a intenção de restaurar uma Kombi Corujinha há muito tempo. Conversando com um amigo, que ele não via há muito tempo, ele manifestou a intenção de adquirir uma Kombi Corujinha, e para a surpresa dele o amigo disse o seguinte: -“Ah!!! Eu sei onde tem duas Kombis paradas há muito tempo e o dono as vende baratinho, fica em um sítio aqui em Córrego do Bom Jesus no sul de Minas”.

Inquieto, ele foi logo dando um jeito para contatar o proprietário. Depois de muitas negociações, idas e vindas, e para encurtar a história, ele acabou comprando duas Kombis uma 1975 e outra 1973, pois foi esta a condição imposta, o dono só venderia as duas.

A Kombi corujinha branco e amarelo no coberto onde ficou parada por anos

Fechado o negócio o Tonho quis retirar as Kombis de imediato, pois ele temia os caçadores de Kombi Corujinha de São Paulo que já estavam de olho no “brinquedo” dele. A preocupação era o dono das Kombis que poderia desistir do negócio se os tais caçadores viessem a oferecer um valor maior.

Tirar as Kombis de lá logo? Só que não! Ocorre que estas Kombis não fugiram da sina de carros parados em sítios por muito tempo: tinham virado galinheiro e havia uma “penosa” depositando ovos num ninho, construído para este fim, com sérias intenções de aumentar a prole do sítio. Daí foram vinte e um dias de espera para que o último pintainho deixasse o ninho e liberasse o veículo para transporte. Até este último pintainho ficou sempre acompanhado pela mãe, uma verdadeira galinha choca, brava como uma leoa, das mais ciosas de suas obrigações com a ninhada toda.

A ninhada estava quase pronta para deixar o ninho, mas a espera foi até a liberação final da Kombi para ser levada para o sítio do Tonho

Aí as Kombis, logo que liberadas, foram transportadas direto para o Sitio do Tonho em Porto Sapucaí, onde o Trator Ford 1949, citado acima, ajudou na movimentação interna.

Ele acabou optando por reformar a branco e amarelo 1973 uma vez que sua documentação estava em dia a outra, a bege 1975, ainda tinha algumas pendências. Porém, para a grande surpresa do Tonho, o que parecia bom escondia uma triste realidade: camadas espessas de massa plástica encoberta por tinta e bastante ferrugem; o que está obrigando à substituição de muitas peças.

Por mais incrível que possa parecer o Tonho “fabrica” as partes necessárias usando uma dobradeira simples, que ele teve que confeccionar visando esta restauração e que pode ser vista na foto abaixo:

Acho que o Tonho está levando o lema “faça você mesmo” a um extremo

A coluna do lado direito, por uma reparação inadequada, pois havia sido soldada fora da posição, obrigou ao Tonho a remoção total para corrigir o alinhamento.

O que pareceu que seria fácil está se mostrando bastante complexo e trabalhoso

A estas alturas o Tonho desabafa: “Aqui cabe um parêntese, a Kombi, no meu entender, é um dos veículos mais difíceis de serem restaurados, pois grandes extensões de chapas provocam empenos e dilatações durante o processo de soldagem, sendo que para encolher, retornando à condição original, tem-se que usar de métodos que demandam tempo, paciência e muito trabalho.”

Como pode ser visto na foto abaixo, o desmazelo por parte do usuário anterior foi grande a ponto de amarrar com arame uma das peças mais importantes à segurança que é o cilindro mestre do freio, que, num eventual rompimento, poderia provocar um grave acidente.

A flecha amarela mostra o uso de arame numa área de grande responsabilidade

O progresso do trabalho pode ser avaliado nas fotos abaixo e em pouco tempo chegará a hora da pintura:

Imagino o orgulho e a satisfação do Tonho ao ver mais uma de suas restaurações ficar pronta e ele poder dizer: “Fui eu quem fiz”…
Para o Tonho o céu é o limite e ele agora se dedica em tempo integral a todas estas atividades, sempre descobrindo novas coisas para fazer.

Conhecer esta família amiga foi uma grande sorte e eu fico contente em poder trazer para nossos leitores os causos da Tetê e do Tito e, agora, as “artimanhas” do misto de aspirante a “Professor Pardal” e assistente do “MacGyver” com uma incrível inclinação a topar uma “Missão Impossível” de vez em sempre que é o Tonho.

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Alexander Gromow

Ex-Presidente do Fusca Clube do Brasil. Autor do livro EU AMO FUSCA e compilador do livro EU AMO FUSCA II. Autor de artigos sobre o assunto publicados em boletins de clubes e na imprensa nacional e internacional. Participou do lançamento do Dia Nacional do Fusca e apresentou o projeto que motivou a aprovação do Dia Municipal do Fusca em São Paulo. Lançou o Dia Mundial do Fusca em Bad Camberg, na Alemanha. Historiador amador reconhecido a nível mundial e ativista de movimentos que visam à preservação do Fusca e de carros antigos em geral. Participou de vários programas de TV e rádio sobre o assunto. É palestrante sobre o assunto VW com ênfase para os resfriados a ar. Foi eleito “Antigomobilista do Ano de 2012” no concurso realizado pelo VI ABC Old Cars.

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