Colunista Convidado

O fundamental papel do fotógrafo nos furos jornalísticos

Na década de 1970, revelar os segredos da indústria automobilística brasileira era um grande desafio, por vezes, perigoso e solitário. Tive a sorte de, ao lado do fotógrafo Oswaldo Luiz Palermo, formar a primeira dupla de profissionais do setor com essa missão.

Naquela época, eu trabalhava no Jornal da Tarde, responsável pelas notícias do setor automobilístico e não havia fotógrafos em número suficiente para pronto atendimento às necessidades dos repórteres.

Um dia, o Palermo, chefe do Departamento Fotográfico, demonstrando amizade e interesse, me perguntou se eu aceitaria trabalhar com seu filho, o Oswaldinho. Sinceramente, fiquei surpreso, mas sem titubear, aceitei o riquíssimo presente e, com aquela oferta, formamos a primeira dupla de repórteres dos jornais brasileiros para a cobertura desse importante setor da economia.

O Oswaldinho era bem jovem, não havia completado 18 anos e, em seu processo de formação profissional, trabalhava no laboratório, onde cuidava da revelação dos filmes, cópias fotográficas, dos produtos necessários para revelação dos filmes e fixação das imagens. Também já mostrava seu talento realizando alguns serviços para o jornal.

Juntos, realizávamos a cobertura das atividades da indústria automobilística e reportagens sobre corridas de automóveis, e, sinceramente, éramos uma dupla infernal, que tirou o sossego dos funcionários e diretores das fábricas de automóveis pela sequência de reportagens antecipando a exibição de futuros veículos

Isso porque, na opinião dos fabricantes, a publicação dos segredos comprometia a venda dos produtos existentes pela expectativa da chegada do novo modelo por quem estivesse disposto a adquirir um automóvel.

A juventude do Oswaldinho, sua criatividade, rapidez física e mental, foco em seu trabalho, precisão, talento, arte e muita tranquilidade em momentos difíceis foram patrimônios que herdou do pai, também repórter fotográfico.

Com esse comportamento destacou-se em seu trabalho, produzindo imagens perfeitas em foco, iluminação, arte e, especialmente, locais que permitissem registrar as melhores imagens, de acordo com a posição dos raios solares, do tempo fechado e, em corridas de automóveis, os pontos onde podia conseguir as melhores cenas.

Em sua carreira, Oswaldinho sempre produziu imagens com muita vida, mesmo em momentos dramáticos e exposto ao perigo, jamais perdeu a calma, mantendo uma enervante tranquilidade. Entusiasmado em fazer um comentário sobre o Oswaldinho e saudoso da vida agitada que marcou nossa atividade, ia esquecendo de considerar a fé que sempre incluiu em seu trabalho que considero a razão de seu sucesso.

     As fotos inesquecíveis que produziu revelaram novos modelos de veículos, como todos os Volkswagen da década de 1960 e 1970, os carros da Simca e, depois, da Chrysler, DKW-Vemag, Ford e FNM. Um desses episódios ocorreu na sala de um diretor da Simca.

    Por indicação de um amigo, soubemos de um novo modelo que a montadora estava prestes a lançar e que já havia uma imagem do produto na sala de um diretor da Simca. O Vadeco e eu fomos à fábrica da marca e entramos para uma visita ao Departamento de Imprensa, mas, dentro das instalações, mudamos o nosso destino e fomos para área de diretoria, onde localizamos a fotografia decorando a sala do tal diretor.

    Por ser horário de almoço e não ter ninguém na sala, o Oswaldinho fez as fotos enquanto fiquei na porta atento para avisá-lo caso surgisse algum funcionário. Foram minutos de extremo nervosismo para mim, mas de tranquilidade para Oswaldinho que garantiu a foto do modelo esportivo Simca Rallye, que foi lançado alguns meses depois.

    Na pista de Interlagos também fez fotos memoráveis, como a sequência do tombo de moto sofrido pelo piloto Denísio Casarini. Também em Interlagos, registrou as cenas de Edgard Mello Filho que na última volta da corrida que estava liderando, seu carro ficou sem combustível e, ao parar distante poucos metros da faixa de chegada, muito aflito, tentou garantir a vitória empurrando-o o até cruzar a meta.

    Oswaldinho também demonstrou seu oportunismo na Argentina, em corrida internacional da Fórmula 2 em que foi o único fotógrafo a registrar o acidente do piloto Juan Manuel Bordeu, ao perder o domínio de seu carro, que rodopiou na pista e subiu de marcha à ré no guard-rail, percorrendo mais de 200 metros com duas rodas apoiadas na pista e as outras sobre o guard-rail até chegar ao fim, onde refeito do susto, manobrou o carro e continuou na prova.

     Uma das fotos produzidas pelo Vadeco que provocou mais curiosidade foi a registrada no Autódromo de Interlagos em uma manhã e publicada no Jornal da Tarde horas depois por termos descoberto a realização do teste de um protótipo produzido pela Simca e que foi levado à pista para o seu primeiro teste. O carro ainda permanecia em teste no autódromo por volta das 14 horas quando o jornal, vespertino, era distribuído na cidade de São Paulo, na mais rápida publicação de um fato ocorrido em São Paulo.

    Em 1974, fui convidado pelo presidente Joseph O’Neill para trabalhar na Ford, na gerência do Departamento de Imprensa e, por conhecer os melhores fotógrafos do mercado, entre os quais o Oswaldinho Palermo que, junto com o Reginaldo Manente, me ajudaram a fazer da Ford a primeira empresa do mercado brasileiro a contar com um revolucionário equipamento de transmissão de fotografias por telefone.

    Luiz Carlos Secco
    Visite o podcast Muito Além de Rodas e Motores

    Fotos: Oswaldo Luiz Palermo

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    Luiz Carlos Secco

    Trabalhou de 1961 até 1974 nos jornais O Estado de São Paulo e Jornal da Tarde, além da revista Auto Esporte. Posteriormente, transferiu-se para a Ford, onde foi responsável pela comunicação da empresa. Com a criação da Autolatina, passou a gerir o novo departamento de Comunicação da Ford e da Volkswagen. Em 1993, assumiu a direção da Secco Consultoria de Comunicação.

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