10 Perguntas ao Presidente, com Fatima Barenco Conteúdo Nossos Colunistas

FELIPE NICOLIELLO – Puma Clube de São Paulo, SP

Paixão e muito conhecimento, na preservação desse “felino” brasileiro

[dropcap]E[/dropcap]le é paisagista de profissão e se diz contaminado pelo bichinho da ferrugem desde sempre… Fala de sua família com grande carinho. “Sou casado com Carol, arquiteta urbanista, há 33 anos, que sempre me acompanhou nas empreitadas de restaurações de antigos e eventos, desde o namoro. Tenho dois filhos, o mais velho arquiteto e o mais novo cientista da computação. O filho mais velho gosta de carros, corridas e de antigomobilismo. Para o filho mais novo, carro é apenas um meio de transporte, apesar de “pilotar” muito bem um automóvel.”
Há 5 anos preside o Puma Clube de São Paulo — 4 na primeira gestão e um na atual — e é muito respeitado pelos amantes da marca por ser um grande conhecedor sobre o assunto. Abrindo as entrevistas de 2014, tenho a honra de conversar com o presidente
Felipe Niconiello.

   

    Mais uma vez o Puma Clube realizou o Encontro Nacional com enorme sucesso. Com a presença de quase uma centena de Pumas, de todos os anos e modelos”

 

1.gifEm primeiro lugar, nos conte como surgiu a idéia de fundar o Puma Clube?

Amigos que se formaram em um grupo de discussão sobre Puma na Internet de 2001 a 2005. Nos encontramos em eventos e todo ano a partir de 2004 promovíamos o Mega Churras, um almoço de confraternização. Eu sempre batia na mesma tecla: que era uma vergonha a cidade onde foi fundada a Puma Veículos e Motores, não ter um clube de aficionados. Com a ajuda do amigo Paulo Manzano, que reuniu um grupo de interessados na fundação do clube, em 3 de agosto de 2006, aconteceu a reunião onde 22 fundadores se comprometeram a manter o clube por dois anos. Logo, no dia 31 de outubro de 2006, trabalhamos muito para realizar o III Encontro Nacional do Puma e a Festa da Fundação do Puma Clube, que reuniu mais de 150 automóveis Puma no Sambódromo paulistano,  além de passeios e carreata pelas ruas de São Paulo, nos dias anteriores.

VW Kombi Standard 1995
R$ 55.000,00

R$ 14.000,00

R$ 25.000,00

Porsche 924 1977
R$ 150.000,00

FNM 2000 JK
R$ 120.000,00

VW Brasília 1976
R$ 30.000,00

VW Fusca 1300L 1977
R$ 35.000,00

BMW 2002 Tii 1972
R$ 220.000,00

Ford Corcel de Luxo
R$ 30.000,00

BMW 740i 1997
R$ 95.000,00

VW Saveiro Summer 1996
R$ 80.000,00

VW Brasília 1974
R$ 22.000,00

Encontro Nacional do Puma. Guarujá, SP – outubro de 2013

  Por falar nisso, o Encontro Nacional do Puma já é considerado um dos maiores eventos monomarcas do Brasil. Como você avalia a edição 2013, que aconteceu no mês de outubro, no Guarujá, SP?

Felipe – Mais uma vez o Puma Clube realizou o Encontro Nacional com enorme sucesso. Com a presença de quase uma centena de Pumas, de todos os anos e modelos, proporcionando a cidade e aos visitantes, uma linda imagem da indústria automobilista nacional. Alguns detalhes deixaram a desejar, mas estamos sempre trabalhando para melhorar a cada ano, afinal não recebemos patrocínio de nenhuma empresa ou grande montadora. Para isto, contamos com a CENP – Comissão para o Encontro Nacional do Puma, que foi formada por presidentes de clubes, com experiência nas realizações desses encontros. Neste ano de 2014, o X Encontro Nacional do Puma será em Curitiba, no mês de outubro, organizado pelo Puma Club do Brasil – Curitiba e com o apoio da CENP.

  Como é o relacionamento do Puma Clube de SP com os outros clubes do modelo?

Felipe – Todos os clubes da marca Puma são unidos, sempre um prestigiando ou ajudando ao outro, pois antes de tudo o que vale é a amizade e troca de informações para o bem da marca.

  Placa Preta: O assunto mais polêmico no meio antigomobilístico. Gostaria de ouvir as suas considerações sobre o assunto.

    Mas a pior de todas as formas de avariar a placa preta é a do proprietário que faz a vistoria e depois modifica seu veículo, trocando as rodas ou incluindo algum item que não poderia estar ali.”

Felipe – Sempre fui um entusiasta da Placa Preta desde a sua criação, porque ela é o símbolo da originalidade e marca a época daquele veículo. Quem não entende de uma certa marca de veículo, olhando-o com placa preta, poderá se certificar que naquele ano, a cor, as rodas, a carroceria, o motor mostram uma época da indústria automobilística. Mas ao longo dos anos o desrespeito tomou conta da situação e hoje não podemos ter certeza que o veículo com placa preta está dentro dos padrões originais de fabrica. Alguns clubes credenciados fazem avaliações sem conhecimento de certas marcas. Outros fazem avaliações “ajeitadas” para agradar seu associado. Mas a pior de todas as formas de avariar a placa preta é a do proprietário que faz a vistoria e depois modifica seu veículo, trocando as rodas ou incluindo algum item que não poderia estar ali. Também existem os clubes criados para esse fim, promovendo a certificação na base do PP, pagou passou na vistoria. Isso se deve ao fato, que esses clubes são cadastrados direto no Denatran em Brasília-DF, sem que tenha algum órgão competente para fiscalização, ao contrário dos clubes credenciados que são cadastrados na FBVA – Federação Brasileira de Veículos Antigos, que fiscaliza seus clubes associados. Se a lei determinasse que a FBVA seria o agente fiscalizador das certificações realizados por todos os clubes de veículos antigos, a Placa Preta teria sua finalidade inicial, que é certificar que aquele veículo está realmente dentro dos padrões de originalidade de sua época e não como é vista hoje, para valorizar o veículo ou fugir da vistoria anual em São Paulo. Um bom colecionador, quando vai comprar um veículo, ele não se ilude com a placa preta, olha o veículo como um todo, analisa suas condições e originalidade, exatamente como sempre foi antes de existir a placa preta.

GT 1500 1968: a paixão começou com ele

 Quando e como começou o seu envolvimento com os carros antigos e em especial os Pumas?

Felipe – Como dizem, o bichinho da ferrugem acredito que nasceu comigo. Não sei dizer em que momento isso aconteceu, pois sempre gostei de arte e objetos antigos. O interesse pelo automóvel despertou no Jeep Willys 1942 que meu pai tinha. Sobra de guerra, ele tinha equipamentos interessantes. Depois, aos nove anos, eu brincava de dirigir um Willys Interlagos Berlineta amarelo do pai de um amigo. Pronto, estava instalado o gosto pelos esportivos. Em 4 de abril de 1968, a então revista Fatos & Fotos que me mãe assinava, ostentava na capa o Puma GT 1500. Foi amor à primeira vista, já que eu era apaixonado pelo Lamborghini Miura que brilhava em um pôster no meu quarto. O interessante dessa história da revista é que minha mãe não gostava que rabiscasse ou cortasse qualquer revista, pois ela, depois de ler, encaminhava para a igreja, onde atuava no setor de caridades, para outras pessoas lerem. Não conformado em não ter nada daquele Puma, recortei escondido da minha mãe, uma pequena foto do Puma de traseira e colei na cabeceira da minha cama. Deus ajudou para que ela não descobrisse minha desobediência e a foto está comigo até hoje.

  A Puma se notabilizou, entre outras coisas, por ter lançado ao longo de sua história diversos modelos de esportivos: GT, GTS, GTE, GTB, GTC… E por aí vai, numa verdadeira “sopa de letrinhas”. Entre todos eles, há algum pelo qual você tenha um carinho especial, seja pelas características do carro ou por sua história pessoal com ele?

Felipe – Claro que sim, os primeiros modelos do Coupê apelidados de “Tubarão”, que nasceram como GT 1500 e depois viraram GTE 1600, por influência do ocorrido em abril de 1968. Mas antes de tudo sou apaixonado ‘pela’ Puma, não ‘no’ veículo Puma (no masculino), mas ‘na’ fabrica Puma (no feminino). Por ter gostado do modelo inicial com mecânica VW, comecei a me interessar pelo desenvolvimento da fabrica, o que não foi difícil. Um garoto apaixonado por corridas, que vivia no Autódromo de Interlagos, notava claramente as vitórias e progressos dos veículos Puma nas corridas. Além disso, vivia no desconhecido bairro paulistano do Itaim-bibi, muito próximo do concessionário Comercial MM de Veículos, de propriedade de Milton Masteguin, um dos sócio-fundadores da Puma. Todas as novidades da fabrica aconteciam ali na Avenida Santo Amaro e a equipe oficial Puma era a MM. E adivinhem a onde eu morava? No Ipiranga é claro, não tão perto da Puma, pois a fabrica ficava em um setor industrial do bairro, mas muito perto do Museu do Ipiranga, onde muitos vezes era palco para os ensaios fotográficos da Puma.

A esquerda, Nicoliello ao lado de Milton Masteguin, falecido em 2012. A direita, uma foto de época da Comercial MM

  Você é considerado entre os apaixonados por Pumas uma verdadeira “enciclopédia viva” sobre o assunto. Seu blog Puma Classic é super recheado de informações técnicas precisas e referências essenciais para quem quer comprar, manter ou restaurar um Puma. De onde você tira tanto conhecimento? Você recebe muitas consultas particulares por e-mail ou telefone?

Caminhão Puma, a serviço da Coca-cola

Felipe – Acho que já respondi em parte essa pergunta nas questões anteriores… Paixão somada ao gosto pelo desenho de automóveis, fabricação e pelas corridas, fazia de mim um aprendiz, que mesmo não tendo um professor para me orientar, acompanhava cada detalhe, cada reportagem e cada acontecimento da Puma, assim como de outros fabricantes de esportivos. Mas a Puma era especial, como o amor que tenho pela minha esposa e filhos. Não sabemos explicar o por quê, mas eu sei, que tudo que vi e vivi está registrado em minha memória e não desapareceu como aconteceu com outros fatos. Como falei, me apaixonei pela fabrica e por tudo que ela fazia e como fazia e assim, cada detalhe alterado no veiculo, eu queria saber por qual motivo foi realizado e como não tinha acesso a fabrica, ficava quebrando a cabeça e consultando pessoas mais experientes para saber a resposta. A Puma também foi responsável pelo meu gosto por caminhões. Nasceu ali, com o Puma Coca-Cola, caminhão para entrega de refrigerantes ou os botijões de gás da Ultragaz.

Sim, recebo muitos e-mails e só nem tantos telefonemas, porque não divulgo meu número. Hoje a espera para ser respondido por e-mail está em uma semana a dez dias. E não tem jeito de ninguém me ajudar, as repostas normalmente são técnicas. Às vezes pego algum amigo que entenda sobre algum assunto e peço ajuda para responder. O blog foi criado com essa finalidade, para as repostas estarem disponíveis a todos e eu não ter que responder a mesma pergunta trinta ou quarenta vezes. Como, qual a cor das rodas do Puma? Qual era o volante daquele ano? Essas perguntas eu respondi em fóruns e grupos de discussão, uma centena de vezes. Certo momento, eu tinha amigos que me antecipavam e respondiam: — O Felipe já falou, era assim, assim e assim.

Certa vez eu recebi um e-mail de um amigo falando: — Felipe, você é um trouxa. Fica ensinando todos como era e isso e aquilo. Seu Puma era único, daqui a pouco vai ter um monte de Puma igual ao seu, desvalorizando. E eu respondi: — Nada disso, eu estou valorizando meu carro. Se antes ninguém dava valor a qualquer Puma, com meu trabalho, qualquer Puma está valorizado e com isso o meu vale muito mais do que em 2004, quando comecei minha “pregação”, horrorizado pelo que via ou ouvia no evento em Águas de Lindóia sobre modelos e originalidade de Puma, bem como sua história.

Felipe e seu “Tubarão” 1974: companheiros de longa data

  A Editora Alaúde acaba de lançar o livro “Rino Malzoni – uma vida para o automóvel”, de Jorge Meditisch. Você já teve a oportunidade de lê-lo ou pelo menos folheá-lo? Se sim, gostaria de saber quais foram suas primeiras impressões sobre ele.

Felipe – Infelizmente ainda não vi, mas em se tratando de Rino Malzoni deve ser ótimo.

  Tem sido cada vez maior a participação dos chamados “novos clássicos” nos encontros. São os automóveis fabricados nos anos 1980, 90 e até 2000. Como dirigente de clube de automóveis antigos como você vê a participação desses veículos mais modernos?

    Então acredito ser válida essa paixão bem cedo, só assim para preservarmos nossa história. Nossa cultura está mudando.”

Felipe – Tudo deve ter um começo. Eu mesmo comecei a colecionar Fusca em 1975, no auge das vendas do besouro, sendo que no Brasil era fabricado há apenas dezesseis anos. Na época, o pessoal do extinto Veteran Car Club – São Paulo achava graça, um garoto de vinte anos ser colecionador e de Fusca! Mas foi com eles que aprendi muita coisa de antigomobilismo, pois me respeitam e ajudavam muito. Então acredito ser válida essa paixão bem cedo, só assim para preservarmos nossa história. Nossa cultura está mudando.

10.gifNossa entrevista está chegando ao fim e deixamos aqui com a palavra o amigo e presidente Felipe Nicoliello, a quem agradeço imensamente pela grande colaboração ao Portal Maxicar e a todos que nos prestigiam com suas visitas, para que possam conhecer um pouco sobre os clubes de carros antigos brasileiros.

Felipe – Só tenho a agradecer ao Portal Maxicar, assim como outros sites e revistas do gênero, pelo trabalho realizado para os veículos antigos, ajudando a difundir a cultura do antigomobilismo, que na verdade é uma parte de nossa história. O pensador Osho já dizia: “O povo que não conhece a história está condenado a repetir seus erros”.
Agradeço também a todos que me ajudaram na luta para enobrecer o nome Puma e àqueles que me ouvem ou lêem meus artigos.

[box type=”shadow” ]Fátima Barenco é administradora do Portal Maxicar e traz a cada edição uma entrevista com 10 perguntas ao presidente de um clube de automóveis antigos do Brasil. E-mails para esta seção: fatima@maxicar.com.br[/box]

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