10 Perguntas ao Presidente, com Fatima Barenco Conteúdo Nossos Colunistas

ANDRÉ GRIGOREVSKI – Passat Clube – RJ

Paixão e pioneirismo na preservação de um certo VW refrigerado a água

[dropcap]A[/dropcap] paixão pelos carros antigos começou bem cedinho na sua infância e ao longo dos anos se fortaleceu ainda mais quando teve a oportunidade de ter um Passat como o de seu pai. Não que ele seja velho, mais é do tempo que ainda tínhamos uma ‘home page’ e foi por ai tudo começou…. Hoje aos 35 anos, ele é microbiologista, gosta de rock, animais, graxa e ferrugem. Em vias de se casar com Mariana, é “pai”, por enquanto, de três lindas cachorrinhas… Morador de Niterói, há 9 anos preside o Passat Clube-RJ, o qual fundou. Nesta última entrevista do ano, converso com o amigo André Luiz Grigorevski de Lima.

Seu pai, ao volante do Passat LS de André, modelo idêntico ao que teve no passado

  Como começou o seu envolvimento com os carros antigos, a criação do site HP do Passat até chegar ao Passat Clube do Rio de Janeiro?.

André – Desde pequeno sempre gostei de carros. Conhecia marcas e modelos, mesmo aqueles que já não eram mais produzidos, mas ainda eram vistos pelas ruas. Com menos de 10 anos eu já colecionava revistas de carros, gostava de ler todos os testes, me informar sobre os lançamentos… Mas sempre gostei também dos modelos antigos, mesmo que as informações fossem mais escassas. Sempre que eu sabia que algum evento de antigos seria realizado em Niterói ou no Rio, eu fazia o possível pra comparecer e admirar os carros em exposição. Ainda guardo um álbum com algumas fotos destes eventos registradas em câmera convencional, entre o final dos anos 90 e início dos anos 2000. Já a paixão maior pelo Passat veio de família, por conta de um Passat LS 1980 que meu pai teve ainda durante a minha infância e cuja história contei este ano aqui no Portal Maxicar logo após eu conseguir, enfim, realizar meu sonho de ter um idêntico ao dele.

Em 1996 tive acesso a Internet pela primeira vez e é claro que eu fui pesquisar sobre carros. Encontrei alguns sites estrangeiros e um único site nacional (o Opala.com, que existe até hoje). Não encontrei absolutamente nenhuma informação sobre o Passat em nenhum site. Achei que o Passat merecia um espaço pra contar sua história naquela novidade que era a internet e resolvi colocar a mão na massa. Aprendi a fazer um site, da maneira mais simples possível, encontrei um servidor para hospedagem gratuita, separei umas revistas e fui na casa de um amigo que possuía um scanner de mão pra digitalizar algumas fotos. E em agosto daquele ano eu, que não tinha nem Passat e nem idade pra ter carteira de motorista, criei a “Home-Page do Passat”.

Placa recebida dos amigos do clube, em homenagem aos 18 anos da HP do Passat

O tempo passou e o termo “home-page” caiu em desuso, mas nunca tive coragem, ou mesmo vontade, de alterar o título do site. Aos poucos a coisa foi ficando mais séria e através do site conseguimos reunir um bom número de proprietários de Passat pelo Brasil, por meio de grupos de discussão por e-mail e também de fóruns que tivemos espaço, até criarmos o nosso próprio fórum. Acabei tendo o meu primeiro Passat apenas em 1999, um LSE “Iraque” 1986, que precisou ser vendido pouco tempo depois. Apenas em 2003 consegui outro Passat, um 4M 1978 que está comigo até hoje. Nessa altura do campeonato, já era um carro com seus 25 anos de vida e o interesse em participar dos eventos de antigos, desta vez como expositor, veio naturalmente.

FNM 2000 JK 1963
R$ 190.000,00

R$ 45.000,00

R$ 45.000,00

Mercedes-Benz 280S 1971
R$ 150.000,00

R$ 110.000,00

FNM Jk 2150
R$ 150.000,00

VW Brasília 1974
R$ 22.000,00

Willys Rural 4X2 1968
R$ 80.000,00

Mercedes-Benz 300 SL 1992
R$ 195.000,00

R$ 45.000,00

E a criação do Passat Clube – RJ aconteceu em março de 2005, através de um grupo de amigos que se conheceu através da Home-Page do Passat e começou a frequentar os eventos no Rio de Janeiro.

Seu raríssimo Passat 4M 1978 foi comprado em 2003

  Qual a sua avaliação do evento 5º Encontro AGMH de Veículos Antigos & V Encontro Nacional do Passat realizado em Caxambu, MG em setembro deste ano? Vocês esperavam a vinda de tantos passateiros de fora? Já tem algum projeto para 2015?

André – No quesito “participantes”, minha avaliação sobre o evento leva a nota máxima. Não batemos o recorde de Passat, mas isso era esperado. O evento foi realizado em uma cidade que ficava a algumas centenas de quilômetros das capitais mais próximas, exigindo então pelo menos algumas horas de estrada pra maioria dos participantes, o que sempre pode desanimar ou até mesmo impossibilitar a ida de algumas pessoas. Ainda assim, pouco mais de 50 proprietários fizeram questão de tirar o Passat da garagem e cair na estrada, boa parte deles acompanhados da família. Assim, conseguimos reunir uma bela variedade de modelos e versões, algumas bem raras. E mesmo alguns proprietários que não puderam levar seus Passat por motivos diversos, ainda assim fizeram questão de participar.

Passateiros reunidos no V Encontro Nacional, que aconteceu este ano em Caxambu, MG

A parceria com o AGMH foi fundamental para que tudo tenha dado certo. É um grupo experiente e que dispensa comentários. Fizeram tudo o que estava ao alcance deles pra prestar esta homenagem aos 40 anos do lançamento do Passat no Brasil. E o fato de ter sido um evento em conjunto, com a participação de outros modelos, no meu ponto de vista só trouxe benefícios. Se o nosso objetivo é preservar e divulgar a história do Passat, nada melhor do que fazer isso na presença de outros antigomobilistas, que mesmo não possuindo Passat, admiram o modelo e certamente saíram de lá admirando e conhecendo um pouco mais de sua história e importância no cenário automobilístico nacional.

[su_pullquote]Sempre fica aquela sensação de fim de festa quando volto pra casa e vou cobrir o carro para um merecido descanso.””Sempre fica aquela sensação de fim de festa quando volto pra casa e vou cobrir o carro para um merecido descanso.”[/su_pullquote]

O Encontro Nacional do Passat costuma acontecer em intervalos de 2 anos (ou mais, algumas vezes). Portanto em 2015 o evento não acontecerá. Mas isso não significa que nada será pensado para o próximo ano. Temos algumas idéias e vamos tentar viabilizá-las. Em 2014, além do evento em Caxambu e da participação em diversos encontros no estado do RJ, também realizamos um passeio entre Guapimirim, Teresópolis e Petrópolis, no dia 21 de junho, data em que o Passat era apresentado a imprensa 40 anos antes. Outros passeios virão. De qualquer maneira, o Passat Clube – RJ estará presente nos principais eventos do estado.

  Nos conte um momento marcante em suas viagens a bordo de um de seus Passats que mereça ser lembrado. Uma foto que tenha um significado especial para você nos encontros realizados pelo clube.

André – Já tive inúmeros momentos especiais nas minhas viagens de Passat, tanto para eventos quanto para viagens normais, onde geralmente prefiro ir de Passat também. Sempre fica aquela sensação de fim de festa quando volto pra casa e vou cobrir o carro para um merecido descanso. Mas posso citar pelo menos três momentos que me marcaram. O primeiro momento especial aconteceu em 2007, na viagem para participar do II Encontro Nacional do Passat, em Curitiba. Saímos em 4 carros do Rio de Janeiro, sendo que fui com meu ex-Passat LSE “Iraque”, e em São Paulo ainda encontramos mais dois amigos com seus Passat. Foi uma bela carreata que rodou praticamente 1000km e que causava bastante curiosidade na estrada ou quando parávamos para abastecer. Na volta, como nem todo mundo voltaria no mesmo dia de lá, alguns participantes mudaram e viemos em 5 Passat, com a mesma diversão.

Curitiba 2007 e Blue Cloud 2008: duas viagens marcantes

O segundo momento que não é só especial, mas também meio conturbado, foi a viagem pra Caxambu em 2008 para participar do Blue Cloud, quando os Passat foram convidados pela primeira vez. Fui com meu Passat 4M, carro que nunca havia usado pra sair do estado do RJ. Com o carro teoricamente revisado, lá fomos nós, eu e mais um amigo também de Passat, fazendo uma viagem tranquila pela Dutra. Até que no primeiro pedágio o carro ficou estranho e paramos pra ver. Resultado: giclê da lenta entupido. E que dono de carro antigo nunca assoprou um giclê entupido? Rapidamente resolvemos o problema. Pé na estrada novamente e alguns quilômetros depois, novamente o mesmo sintoma de giclê entupido. Em resumo, a viagem demorou bem mais devido ao número de vezes que paramos no caminho pra repetir a limpeza do giclê. Mas chegamos. Em Caxambu, consegui uma lata de um produto para limpar carburadores e encharquei o pobre carburador de tudo o que foi lado. Na volta o carro não apresentou o menor sinal de entupimento e chegamos sem problemas. Felizmente, esse foi até agora o problema mais grave que enfrentei em uma viagem. Mesmo com os pequenos percalços da ida, foi uma viagem muito agradável e pra participar de um evento especial.

[su_pullquote]Não vamos esquecer que placa preta irregular é um ato de corrupção. Então, de nada adianta reclamar dos políticos corruptos e no dia seguinte conseguir um clube fraudulento ou um despachante desonesto para literalmente comprar uma placa preta para o seu carro.”[/su_pullquote]

Já o terceiro momento aconteceu em 2013 e foi uma emoção única: quando meus amigos Edison e Juliane, de São Paulo, me convidaram para não apenas para ir ao casamento, mas também para levar a noiva no meu Passat LSE. Fomos pra SP e tive a honra de participar deste momento especial da cerimônia, que teve direito também ao impecável Passat TS do noivo.

  Placa Preta irregular. Um assunto sem fim… gostaria ouvir a sua opinião.

André – É um assunto polêmico, que deve ser tratado com cuidado, porém nunca deve sofrer omissão. Entendo que na maioria dos casos das placas pretas irregulares, isso acontece pra fugir das também polêmicas inspeções veiculares. Porém de maneira alguma isso deve ser usado como justificativa para burlar uma lei. Os donos de carros antigos, a própria FBVA e os clubes independentes devem lutar mais tanto pela moralização da placa preta, quanto por maneiras de resolver os problemas de quem possui carros antigos modificados e tem o direito de utilizá-los. Possíveis soluções já foram amplamente debatidas, por isso não vou entrar em detalhes, mas é de conhecimento geral que outros países possuem leis para enquadrar também os carros modificados, que em geral são pouco utilizados durante o ano e por isso tem impacto ambiental insignificante. Não vamos esquecer também que outro motivo que justifica o verdadeiro comércio de placas pretas irregulares se deve ao próprio ego de muitos proprietários, que parecem não caber nem mesmo dentro de seus carros. Eu acredito que toda publicação ou site especializados em antigos deve combater essa prática, como já faz há tempos o Portal Maxicar.

Uma propaganda do Passat da época de seu lançamento

Não vamos esquecer que placa preta irregular é um ato de corrupção. Então, de nada adianta reclamar dos políticos corruptos e no dia seguinte conseguir um clube fraudulento ou um despachante desonesto para literalmente comprar uma placa preta para o seu carro.

 Fale um pouco sobre a proposta inovadora que o Passat representou para a história da Volkswagen do Brasil, que até então somente havia fabricado automóveis baseados na configuração do Fusca.

André – O Passat trouxe diversas inovações não apenas para a VW, mas também para o mercado brasileiro como um todo. Foi lançado aqui em 1974, apenas um ano após seu lançamento na Alemanha, o que demonstra como era um projeto avançado, diferente da maioria dos modelos vendidos aqui naquela época. Trouxe algumas novidades em termos de mercado nacional, como o circuito duplo de freios atuando em diagonal e o raio de rolagem negativo, características extremamente importantes em termos de segurança, além do ventilador elétrico para o radiador e o uso de homocinéticas. Em termos de VW, o Passat se apresentou como um modelo com ótimo desempenho e estabilidade, baixo nível de ruído e dirigibilidade bem diferente quando comparados aos modelos refrigerados a ar. Como toda novidade traz também um certo receio, o Passat chegou a ser chamado de “anti-Volkswagen” por alguns revendedores da marca na época do seu lançamento, mas logo essa situação mudou e as duas linhas conviveram ainda durante muito tempo.

 L, LS, TS, Pointer, Surf, 4M… Uma das características do Passat é sua grande variedade de versões. Qual a sua preferida e por que?

Sport: uma de suas versões preferidas

André – Talvez essa seja a pergunta mais difícil de todas… É mais comum que as pessoas se apaixonem pelas versões esportivas ou mais luxuosas. No caso do Passat, os TS e GTS Pointer costumam ser os mais cobiçados. Mas eu confesso que gosto tanto de ver a esportividade destas versões quanto, por exemplo, admirar a simplicidade de um Passat L, cujo painel nunca tenha recebido um rádio. Gosto dos modelos mais básicos até os que eram mais caros. Se for pra escolher algumas, pela raridade eu fico com as versões especiais, como o 4M, Sport e Plus.

  Por ser um clube de marca específica, como é o relacionamento de vocês com os clubes de Passat de outros estados? Tem ideia de quantos clubes existem? E onde se concentra o maior numero de carros?

André – Conheço clubes em atividades nos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Distrito Federal e Rio Grande do Sul. Certamente existem outros que não conheço, que possuem menor divulgação. Nossa relação é de muita amizade e respeito com a maioria destes clubes, como o Passat Clube de Curitiba, parceiro há anos e que realizou os maiores eventos de Passat que já tivemos no Brasil, sendo também o primeiro clube de Passat criado. É certo que os curitibanos acabaram inspirando a criação de outros clubes. Em número de Passat, nada supera a cidade de São Paulo, que eu imagino que também seja a cidade com mais carros antigos do país, mas o sul do país também consegue fazer bonito em quantidade.

  Qual a sua visão do antigomobilismo no Brasil?

André – O antigomobilismo cada vez absorve mais adeptos e é levado mais a sério. Há pouco mais de 15 anos, quando comecei a acompanhar este hobby mesmo que ainda de longe e sem carro antigo, o número de eventos era muito baixo, assim como o número de clubes. Atualmente, o hobby cresceu tanto que em alguns finais de semana chega a ser difícil escolher em qual evento ir. Há também um número bem maior de clubes, pra agradar a todos os gostos. E é muito bom ver como mesmo com um grande número de clubes, muitos deles acabam se tornando parceiros na realização de eventos. Só não podemos esquecer que mesmo em meio a alguns problemas que esse crescimento acaba trazendo, como foi o caso das placas pretas irregulares discutidas em outra pergunta, o antigomobilismo continua sendo um hobby, algo que participamos para fazer novas amizades e fortalecer as já existentes, além de poder curtir alguns ótimos momentos fazendo o que gostamos.

9.gif Tem sido cada vez maior a participação dos chamados “novos clássicos” nos encontros. São os automóveis fabricados nos anos 1980, 90 e até 2000. Como dirigente de clube de automóveis antigos como você vê a participação desses veículos mais modernos?

André – Acho muito importante que desde agora alguém pense em cuidar destes modelos e já perceba o valor histórico que alguns deles possuem. Quantos carros que hoje seriam antigos e raros já não se perderam porque ninguém deu a eles a devida importância quando começaram a envelhecer? Alguns carros relativamente comuns no Brasil em décadas passadas (como o Henry J ou o Renault 4CV) são difíceis de encontrar mesmo em eventos de grande porte e torço pra que o mesmo não aconteça no futuro com modelos mais recentes. Tenho uma certa queda pelos importados dos anos 90, e vejo como grande parte deles circula em péssimo estado hoje em dia. Eu mesmo tento manter um destes “renegados” dos anos 90 nas melhores condições possíveis e percebo a dificuldade que é.

Acho muito válida a participação dos chamados novos clássicos nos eventos, desde que com um certo critério, pois sem isso um evento com potencial pode virar um simples estacionamento, e também cuidado para que o número deles não impeça a participação de modelos mais antigos nos eventos. Afinal, todo carro acaba passando por esta metamorfose até chegar a sua fase de antigo, o que não foi diferente com o próprio Passat, que já se consolidou bastante neste meio, mas ainda tem alguns poucos degraus a superar.

Com a noiva, Mariana. Casamento em breve

 Nossa entrevista está chegando ao fim e deixamos aqui com a palavra o grande amigo e presidente André Grigorevski, a quem agradeço imensamente pela grande colaboração ao Portal Maxicar e a todos que nos prestigiam com suas visitas, para que possam conhecer um pouco sobre os clubes de carros antigos do Brasil.

André – Gostaria de agradecer inicialmente mais este espaço aberto para a “turma dos Passat”, como aliás sempre foi a conduta do Portal Maxicar. Agradeço também a oportunidade de poder falar sobre alguns assuntos importantes que foram abordados nessa entrevista e convidar todos a conhecer um pouco mais da história do Passat no site www.hpdopassat.com.br.

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