Repórter Maxicar

O lendário Bentley ‘Blue Train’

Um desafio que atravessou décadas, numa história em quatro atos

Essa reportagem é composta de quatro ‘atos’. Todos muitos interessantes, como você poderá comprovar. A lenda em questão começa na Europa há 90 anos e termina nos dias de hoje. Vamos a ela!


Ato #1 — O DESAFIO

Em 1930, Joel Woolf Barnato era o presidente da Bentley, além de famoso piloto. Havia sido, por exemplo, nada menos que o campeão das 24 Horas de Le Mans por três anos consecutivos: 1928, 29 e 30. Em março daquele ano, Barnato participou de uma acalorada discussão entre automobilistas no Hotel Carlton, em Cannes, na França. Comentava-se sobre uma propaganda da Rover que falava das qualidades de seu Light Six, que havia vencido uma corrida contra o famoso Expresso Blue Train entre Cannes e Calais.

A propaganda da Rover que gerou a aposta
A propaganda da Rover que gerou a aposta

Para provar a superior qualidade de seus Bentleys, Barnato então decidiu propor um desafio ainda maior: apostou 100 libras que conseguiria com seu Speed Six Sallon não apenas repetir o feito do Rover, como ir mais além: percorreria o trajeto de Cannes para Calais e em seguida transportaria o Bentley através do Canal da Mancha e o conduziria até ao seu clube de Londres. Tudo isso antes que o Blue Train conseguisse chegar a Calais.

A prova aconteceu no dia 13, com largada às 17h45. Apesar das fortes chuvas, de alguma dificuldade para comprar combustível e de um pneu furado, o Bentley chegou a Londres 4 minutos antes de o Blue Train chegar a Calais. Havia percorrido 570 milhas a uma velocidade média de 43 mph. Uma realização impressionante nas estradas mal conservadas daquela época. Barnato naturalmente ganhou a aposta, mas teve muitas despesas com o pagamento de multas de trânsito, já que aquele desafio não havia sido devidamente autorizado pelas autoridades francesas.

ATO #2 — O ENGANO

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A tela de Terence Cuneo que reforça o equivoco

Dois meses após o feito, ele recebeu outro exemplar do Speed Six, dessa vez um Sportsman Coupê, que ele apelidou de “Blue Train”, em alusão à vitória da Bentley naquele desafio. A história ganhou o mundo. E ao longo das décadas o Sportsman acabou se tornando ‘oficialmente’ o vencedor do desafio contra o trem… O mal entendido nunca mais foi corrigido. E uma tela da época, chamada ‘Le Train Bleu’ de autoria do pintor Terence Cuneo reforçou ainda mais essa lenda.

Ford Verona GLX 1.8
R$ 30.000,00

R$ 110.000,00

Porsche 924 1977
R$ 150.000,00

R$ 25.000,00

R$ 45.000,00

Mercedes-Benz 280S 1971
R$ 150.000,00

Mercedes-Benz 300 SL 1992
R$ 195.000,00

FNM Jk 2150
R$ 150.000,00

VW Brasília 1974
R$ 22.000,00

R$ 14.000,00

Chevrolet Tigre 1946
R$ 170.000,00

Ato #3 — O COLECIONADOR

Hoje, tanto o verdadeiro campeão — Speed Six Sallon — quanto o ‘impostor’ — Speed Six Sportsman Coupê — pertencem ao colecionador americano Bruce R. McCaw, de Seattle, que reconhece ser o Sallon o legítimo carro usado no desafio.

Os dois Bentleys originais envolvidos no caso: o da esquerda, o verdadeiro; o outro o impostor
Os dois Bentleys originais envolvidos no caso: o preto, o verdadeiro; o verde, o impostor

Ato #4 — A RECRIAÇÃO

Em outubro de 2014, a empresa Bob Petersen Engineering, da Inglaterra concluiu seu projeto de recriação do Bentley ‘Blue Train’ — no caso, o ‘impostor’ Six Sportsman Coupe, que de fato é incrivelmente mais belo, arrojado e aerodinâmico que o ‘verdadeiro’, de quatro portas.

A réplica é equipada com um motor de oito cilindros em linha Bentley B80, com quatro carburadores SU, que geram 180 cv de potência. A transmissão é de quatro velocidades sincronizadas. O porta-malas possui um kit de ferramentas completo em uma bandeja dobrável. No luxuoso interior, dois armários em nogueira, cada um contendo uma garrafa e um conjunto de copos de cristal que foram gravados com o Bentley “B”, para o deleite dos passageiros. O couro vermelho dos estofados harmonizam com os carpetes da mesma cor. O teto é em vinil.

Este ‘Blue Train’ contemporâneo é inteiramente em chapas de aço, construído sobre o chassi Bentley Mark VI de 1950. Foi arrematado por US$ 650 mil em leilão promovido pela Sotheby’s em março de 2015.

Texto e edição: Fernando Barenco
Fotos: Sotheby’s e web

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